Stédile diz que ocupações continuam e promete luta contra o capital

O principal dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, anunciou hoje, durante uma conferência do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, que a sua organização continuará arregimentando pobres em todo País para que ocupem latifúndios.

“Não faremos isso para afrontar o governo Lula, nem para desgastá-lo, mas para ajudá-lo a fazer a reforma agrária”, explicou. “Nenhuma mudança importante na humanidade ocorreu sem mobilização de massas.” 

Stédile também disse que a luta pela reforma agrária no País entrou em um novo patamar, no qual não se reivindica apenas a posse da terra, nos moldes clássicos, mas também uma luta contra o capital internacional e as multinacionais, que hoje controlam o comércio de produtos agrícolas, impõe padrões de consumo e de alimentação em quase todo mundo.  “Todas as reformas agrárias do tipo capitalista, assistencialista, que vêm sendo feitas, mesmo sobre pressão dos movimentos sociais, nos países do terceiro mundo, com os chamados assentamentos, não dão certo – porque ao trabalhador rural não basta mais ter apenas o controle da terra. Isso não muda as relações sociais existentes.”

Sobre o novo modelo de reforma que imagina, ele afirmou: “Precisamos pensar numa reforma agrária de outro tipo – uma reforma agrária que comece sim pela democratização da terra, mas onde os camponeses terão que superar uma ideologia pequeno burguesa e corporativista, que nos colocava que bastava ser proprietário de dez hectares de terra para se libertar. Um camponês com dez hectares de terra continua escravo. Primeiro, escravo da sua ideologia. Segundo, escravo da sua ilusão”.

O líder do MST fez essas afirmações durante o debate sobre Terra, Território e Soberania Alimentar, realizado no auditório do Ginásio de Esportes Gigantinho, com a presença de quase 5 mil pessoas. No final do pronunciamento ele foi intensamente aplaudido.

No decorrer da conferência, ele apresentou um histórico das mudanças ocorridas ao longo dos últimos séculos na questão das lutas pela posse da terra. Relembrou o fracasso ocorrido nos países socialistas, que tentaram coletivizar a terra ao mesmo tempo que mantinham padrões antigos de produção. Citou as mudanças recentes decorrentes da globalização e dos avanços das grandes empresas agrícolas. Disse ser importante compreender essa movimentação do grande capital para definir os passos dos movimentos sociais. Citou como exemplo a ser seguido alguns projetos de ocupação da terra que estão ocorrendo na Índia.

“É fundamental que os camponeses controlem a agroindústria”, afirmou.

“É por isso que nós todos estamos desenvolvendo uma luta férrea contra a Nestlé, contra a Monsanto e contra todos que querem nos dominar. É preciso incorporar à reforma agrária o conceito de que a terra deve servir para produzir alimentos para todo o povo. A fome não é um problema de produção de alimentos. Porque há alimentos para todos. A fome é resultado da concentração da produção nas mãos das multinacionais.”

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