Severino monta comitê de campanha e trabalha por Ciro Nogueira

Brasília (AE) – O ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti (PP-PE) renunciou, deixou a mansão oficial, mas ainda não abandonou os vícios do cargo que exercia. Mesmo sendo o primeiro presidente a renunciar na história da Câmara, Severino resolveu fazer campanha para o seu xodó, o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), a quem chama de filho. E a sua primeira missão foi a de tentar convencer o deputado Francisco Dornelles (PP-RJ) a renunciar em benefício de seu apadrinhado. "Ele e o Dornelles sempre se deram muito bem", confidenciou um assessor.

Vestindo calça social e camisa de linho, Severino transformou o apartamento em uma das superquadras de Brasília em comando avançado de sua sucessão. Na condição de cabo eleitoral, utilizou dois telefones e respondeu a dezenas de telefonemas de deputados. Em apenas duas horas foram mais de 36 chamadas. Perdeu o mandato, mas não o titúlo majestático de rei do baixo clero.

"Severino, estou ligando para saber como votar? Quem é o nosso candidato", perguntavam os deputados do baixo clero, aquele grupo de parlamentares de pouca expressão. Nogueira era resposta. E, como velho conhecedor das manobras políticas, ainda lembrava que as candidaturas de Luiz Antônio Fleury, do PTB, e de João Caldas, do PL, não eram para valer. Eles retirariam seus nomes no momento certo para fortalecer Nogueira.

Tanta movimentação acabou suspendendo os dias de ostracismo do velho coronel da política que deseja fazer de Nogueira seu sucessor. "O Ciro aprendeu as manhas de Severino e as tornou mais sofisticadas. É legítimo sucessor", avaliou o assessor.

A pedido do ex-presidente, os deputados Léo Alcântara e Robson Tuma, ambos do PFL, estariam cabalando votos para a candidatura Ciro. Eles também trabalharam duro há sete meses, quando elegeram Severino para a presidência da Câmara.

A ajuda de Severino é subterrânea, quase clandestina. Nada de foto, por exemplo. Primeiro porque não precisa. Depois, um retrato ao lado do ex-presidente pode virar arma para os adversários. Mas nada disso retira do Severino o ânimo de trabalhar para o candidato de seu partido.

Na segunda-feira, ele deveria está recolhido ao isolamento provocado pela renúncia e ainda chorando as mágoas de ter sido apanhado no mensalinho do concessionário do restaurante da Câmara, Sebastião Buani.

Que nada. Recebeu deputados para jantar até a meia-noite. Entre os presentes estava o próprio Luiz Antônio Fleury, que lançou-se candidato pelo PTB. Era tanto o entra e sai que nem a dona Catarina Amélia resistiu e comentou: "Ele não se agüenta. Onde tem eleição Severino se mete", disse. E o pior é que ele pode vencer de novo porque as chances de Ciro são boas.

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