Sem a menor cerimônia

Não há nada mais salutar no processo político que a alternância de poder. Convivemos com isto no Brasil há pouco tempo, mas a transição democrática dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva serviu de exemplo para todos que se julgam de ?direita? e de ?esquerda?, ou os blocos de situação e oposição. Mas ainda há políticos no Brasil que não aceitam dividir o poder.

Como se vivêssemos ainda na era do coronelismo, alguns prefeitos criaram uma nova fórmula para se perpetuarem no poder. Eles ganham as eleições que lhe são permitidas, são eleitos prefeitos por duas vezes (como manda a lei) e, no final do segundo mandato, renunciam e mudam o domicílio político para outra cidade, lançando-se candidato a prefeito novamente. É um subterfúgio da lei política usado à exaustão em cidades do interior. E uma prática abominável do ponto de vista ético.

As pequenas cidades se tornaram ?reféns? de determinados políticos. Conhecidos nas localidades, ganharam a simpatia do público em programas de rádio ou iniciativas assistencialistas. Assim, conquistaram a confiança do eleitorado e chegaram à Prefeitura. Com a máquina pública, mantiveram a popularidade e se reelegeram. E para evitar que o grupo que comandam se divida, arriscam uma ?transferência?.

Arriscar talvez seja uma palavra forte demais. Como conhecem e são conhecidos na região, ganham a marca de ?estadistas? locais, e entram nas eleições como candidatos fortes. Assim, eles se mantêm no poder por longos anos, apenas abrindo caminho para seus aliados incondicionais ou então para parentes (filhos, irmãos ou cônjuges). E, assim, adeus alternância de poder.

Como a situação, apesar de imoral, não é ilegal, só há uma forma de acabar com a farra das transferências de domicílio eleitoral. E é simples: é só o eleitor perceber que está sendo vítima de um processo viciado e mudar suas opções. O voto é, em um país democrático, a grande arma da sociedade.

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