Segundo o IBGE, produção industrial tem queda de 2%

Rio (AE) – Os juros altos, a queda na confiança do consumidor, o menor ritmo no crescimento da oferta de crédito e o dólar baixo derrubaram a produção industrial em setembro, que recuou 2% ante agosto. Houve crescimento de 0,2% ante setembro do ano passado – o mais baixo nessa base de comparação em dois anos. O mau desempenho do setor foi puxado pelos bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis), com queda de 8,9% ante o mês anterior, o pior resultado desde janeiro de 2001.

Isabella Nunes, gerente da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disse que os dados de setembro confirmam a perda de ritmo na atividade industrial. Para ela, os resultados podem estar vinculados a ajustes de estoques e aos efeitos do câmbio sobre o setor. Estevão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Julio Sérgio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), citaram os juros e o dólar como principais inibidores da produção.

Os resultados confirmaram a desaceleração da economia no terceiro trimestre (-0,7% ante o segundo trimestre, a menor taxa desde o segundo trimestre de 2003) e motivaram uma enxurrada de revisões nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB). A maior parte dos analistas de mercado, entidades vinculadas à indústria e o Ipea já avisaram que vão rever para baixo as estimativas para a economia neste ano.

Segundo Isabella, os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) vinham mostrando queda nas vendas industriais e isso ainda não tinha refletido na produção. "Este mês de setembro mostrou um ajuste de estoques mais intenso. Pode ter ocorrido um ajuste mais fino concentrado em setembro", observou.

No caso do câmbio, Isabella avalia que a valorização do real em relação ao dólar pode ser um dos motivos da desaceleração ou queda de alguns segmentos vinculados a bens de consumo duráveis e semi e não duráveis (calçados, vestuário, alimentos), que estão tendo dificuldades de enfrentar a concorrência gerada pelo aumento das importações e a perda de competitividade com as exportações. Como exemplo, ela citou eletrodomésticos e calçados.

Duráveis – No caso dos bens duráveis, que vinham puxando a produção da indústria neste ano e cujos resultados de setembro foram considerados um "desastre" pelo analista Roberto Padovani, da Tendências Consultoria, Isabella avaliou que a queda ante agosto está relacionada a maior cautela dos consumidores, aumento da concorrência de produtos importados e crescimento menos intenso da "curva de concessão" do crédito.

Segundo ela, o recuo foi provocado especialmente por eletrodomésticos, já que os celulares e automóveis sofreram menos esses efeitos por causa da forte vinculação com as vendas externas. Isabella explicou que as importações de bens duráveis cresceram muito a partir de setembro, sob efeito do câmbio, o que está levando a indústria nacional a competir com os produtos importados.

Os bens duráveis também mostraram uma forte desaceleração nos dados comparativos ao ano passado, passando de um crescimento, ante igual mês do ano anterior, de 13,3% em agosto para 0,4% em setembro, o pior resultado nessa base de comparação desde julho de 2003.

Para Padovani, esses resultados estão diretamente vinculados à crise política, que teria minado a confiança dos consumidores, em conseqüência do "bombardeamento" da crise na mídia. Ele argumenta que o único indicador recente em queda, capaz de influenciar a produção, é a confiança do consumidor, já que o crédito prossegue em expansão e a renda está em recuperação.

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