Segundo a OIT, Brasil tem 25 mil trabalhadores escravos

Em 10 anos, foram libertadas no País quase 18.000 pessoas que estavam trabalhando em condições análogas à de escravidão. As denúncias de casos semelhantes somam 34.500 casos, e a estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) é a de que o número atual de escravos no Brasil pode chegar a 25.000. Mais de um século depois da abolição formal da escravatura, os métodos de escravidão por dívida ainda são cultivados no País e associados a outras mazelas do campo, como o desmatamento e a violência, de acordo com o relatório da OIT "Trabalho Escravo no Brasil do Século XXI", divulgado nesta quarta-feira (20) em Brasília.

O documento aponta o Estado do Pará como o campeão de casos e de denúncias de trabalho escravo. Os dados usados pela OIT, compilados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), mostram que, de 1995 a 2005, praticamente 50% das denúncias de trabalho escravo no País foram feitas no Pará. Dos trabalhadores libertados em ações de fiscalização, 37,5% o foram naquele Estado.

Depois do Pará, aparece o Mato Grosso, com 22,3% dos casos de trabalhadores libertados. Segundo a OIT, é justamente na nova fronteira agrícola do País que acontece o maior número de desrespeito às leis trabalhistas e aos direitos humanos, conjugado com desmatamento e violência. A OIT cruzou os dados do trabalho escravo com os de desmatamento. Entre os 10 primeiros na lista de trabalhadores libertados, apenas duas cidades da Bahia, por exemplo, não estão também na lista das que tiveram mais desmatamento. "Foi possível enxergar focos de trabalho escravo em regiões de fronteira agrícola do País. Os mapas mostram que a expansão de plantações coincide com os locais onde foram libertados trabalhadores", disse o coordenador do estudo da OIT, Leonardo Sakamoto.

O cruzamento de dados mostra também que, entre os 10 municípios que mais registraram assassinatos no campo, sete estão também na lista dos que registraram ocorrência de trabalho escravo.

Os dados da OIT e do Ministério do Trabalho mostram que 80% dos trabalhadores encontrados em situação de escravidão trabalham na pecuária. Na maioria absoluta dos casos, são chamados para desmatar áreas e limpá-las depois da derrubada das árvores, formação de pasto. Depois da pecuária, aparece as plantações de soja e algodão, com 10%.

O relatório mostra, ainda, que os métodos usados para manter os trabalhadores em situação de escravidão são os mesmos desde o século 19: a caderneta de dívidas. Os trabalhadores já começam a trabalhar devendo transporte, roupas, alimentação e até mesmo o material de trabalho que é descontado do "salário" que deveria ser pago. A situação se agrava, porque a maior parte dos trabalhadores sai da sua cidade para trabalhar muito longe de casa e perde a referência – muitas vezes não sabe nem em que cidade ou Estado está. Cerca de 91,5% dos trabalhadores libertados era composta de migrantes. A maioria do Maranhão, Piauí e Tocantins.

Voltar ao topo