Santo de barro

Diante da denúncia publicada pela revista Veja, de que o PT recebeu US$ 3 milhões de Cuba para a campanha eleitoral de Lula, a oposição decidiu não ficar inerte, mas andar devagar, ?porque o santo é de barro?. A receita é paciência e caldo de galinha, que não fazem mal a ninguém. O santo de barro não é o presidente Lula, mas o Brasil, que seria prejudicado política e economicamente com um extemporâneo pedido de ?impeachment? de seu presidente.

A reação é de cautela, apesar de ser explosiva a denúncia. Não pôr mais lenha na fogueira é a decisão, pois a presumível vinda dos dólares de Fidel teriam como negociadores e receptores para encaminhamento ao PT assessores do então prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci Filho, hoje ministro da Fazenda. Ele conduz uma política econômica considerada pelo empresariado como confiável e pelos investidores e organismos financeiros internacionais como acertada. As críticas que a essa política econômica são feitas apenas a arranham, sem abalá-la. O empresariado reclama dos juros altos e a esquerda, inclusive do PT, do empenho em conseguir um superávit cada vez maior nas contas do País, o que agrada aos credores estrangeiros, pois sobra dinheiro para rolar seus empréstimos, embora falte para o desenvolvimento econômico nacional.

Uma tomada de posição que levasse a um pedido de ?impeachment? e à convocação de Palocci como indiciado ou mesmo testemunha do negócio dos dólares quebraria o santo. Poderia significar a perda fatal de confiança política e creditícia no País, o que prenunciaria uma derrocada. Hoje, de parte do nosso governo, muito se fala em economia já em ponto de auto-sustentação, o que é uma verdade em termos. Ela caminha, apesar da crise e, para muitos, a despeito da enorme carga tributária e dos juros escorchantes, além de recursos contingenciados que fazem falta a setores essenciais. Bom exemplo é o do combate à febre aftosa, em que o governo segurou o dinheiro, ajudando a abrir as portas para a doença.

José Serra, que disputou a Presidência da República com Lula e perdeu, sendo hoje presidente do PSDB e prefeito de São Paulo, dá bem a medida da cautela da oposição: ?Trata-se de ser responsável. Os fatos apontados são gravíssimos e têm de ser investigados para ver se se comprovam ou não?.

Por enquanto, a oposição apenas decidiu protocolar requerimentos na CPI dos Bingos para convocação de Rogério Buratti e de Eustáquio Soares Macedo, duas testemunhas referidas por Veja. PSDB e PFL também fazem reunião com suas assessorias jurídicas para discutir a entrada de representação no Ministério Público pedindo a apuração da denúncia no Tribunal Superior Eleitoral. O objetivo é, se provada a vinda dos dólares de Fidel, o que será muito difícil, senão impossível, cassar o PT e não o presidente.

?Estamos conscientes da gravidade do assunto e da necessidade que seja submetido a investigações. Do resultado da investigação é que poderemos partir para qualquer tipo de ação?, declara cauteloso Jorge Bornhausen, presidente do PFL.

Assim, os presidentes dos dois maiores partidos de oposição reafirmam a necessidade da investigação, mas refugam, desde logo, a aceitação sem maiores cautelas da denúncia e medidas extremas que poderiam prejudicar Lula e Palocci. Mas que, certamente, prejudicariam o Brasil.

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