Há mais uma comissão mista de inquérito no ar, aprovada pelo presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Trata-se da CPMI dos Sanguessugas que deverá apurar em 30 dias prorrogáveis por período igual, como fizeram muitos parlamentares para desviar recursos do Orçamento da União e comprar a preços superfaturados – aí está o crime abominável – ambulâncias destinadas aos serviços de saúde de prefeituras municipais.
Ocorre que a referida CPMI vai chover no molhado, se é que seus componentes consigam fazer alguma sessão diante da realidade da campanha eleitoral em andamento. Mesmo fazendo algum esforço investigativo, a CPMI estará amassando um barro já pisado pela Polícia Federal e Ministério Público, aliás, de onde partiram os primeiros rumores da roubalheira de R$ 110 milhões do Orçamento.
Esse gol de placa da Polícia Federal, para usar expressão em voga nesses dias, resultou da competência legal de um organismo destinado a desempenhar com eficiência as funções de sua especialidade, ao descobrir e denunciar dezenas de deputados federais, empresários e servidores públicos envolvidos na quadrilha organizada para fraudar o Orçamento da União.
Os fraudadores foram presos por ordem da Justiça Federal de Mato Grosso, sede da empresa utilizada para fazer o encaminhamento das falsas licitações e aquisição das ambulâncias. O ponto inicial da trama estava nas emendas dos parlamentares para o setor de saúde, grande parte delas, porém, contaminada pelo vício da apropriação indébita de recursos públicos.
O senador Renan Calheiros advertiu os proponentes da CPMI, lançando sobre eles a responsabilidade de corporificar a investigação, não apenas estribado nos resultados colhidos pela Polícia Federal, mas porque senadores e deputados logo deixarão o Congresso literalmente às moscas, para sair à caça de votos em seus estados.
A despeito dos bons propósitos e da sinceridade de muitos, a CPMI dos Sanguessugas poderá se constituir em lamentável fracasso. Mas nem tudo estará perdido e nem haverá jeito de aliviar o peso da culpa dos maus elementos que executaram o recorrente e vergonhoso roubo, porquanto o trabalho da Polícia Federal e a manifestação da Justiça garantem à sociedade que os criminosos serão punidos com o rigor adequado.