Safra de R$ 56 bi aponta para recuperação da agricultura

O inferno astral da agricultura está chegando ao fim, apesar da safra deste ano ainda não ser nada espetacular em volume. A receita com a produção de grãos que começa a ser colhida no mês que vem deve somar R$ 56,1 bilhões, segundo estimativas da RC Consultores.

O crescimento é de 22,7% em relação à receita de 2006. São mais de R$ 10 bilhões adicionais no bolso do agricultor, depois de dois anos consecutivos de queda na renda e descapitalização. Entre arroz, feijão, milho, soja, algodão e trigo, o País deverá colher 118 milhões de toneladas, só 1,1 milhão a mais do que no ano passado.

O motor da recuperação da agricultura de grãos é a disparada dos preços do milho e da soja no mercado internacional, impulsionados pelo programa de produção de álcool nos Estados Unidos, além da quebra na produção de trigo americana. Os agricultores dos EUA vão reduzir a área plantada de soja e destinar maior volume de milho para extração do álcool.

O impacto dessa decisão nos preços do milho e da soja já é visível. A saca de milho de 60 quilos está cotada atualmente em R$ 26 no mercado doméstico de Campinas (SP). É o maior nível de preço desde 2002 e quase 50% acima do mesmo período do ano passado, segundo a consultoria Safras & Mercado.

O valor da saca de soja de 60 quilos para ser entregue neste semestre já atingiu no mercado interno R$ 32. A cotação é considerada acima da média de R$ 25 para o período.

"Há uma mudança estrutural na agricultura com a decisão dos EUA de ampliarem a produção de álcool de milho", afirma o diretor da RC Consultores, Fábio Silveira. Segundo ele, esse efeito sobre os preços da soja e do milho não se esgota nesta safra e deverá ter reflexos nos próximos anos. "É óbvio que em algum momento os preços tenderão a ceder um pouco", pondera.

Como os EUA não têm área de fronteira agrícola, ampliar a produção de milho significa reduzir a produção de soja. Com isso o Brasil ganha com os dois produtos, observa Silveira.

Com a explosão dos preços do milho, o presidente da Perdigão, Nildemar Secches, acredita que o grão pode mudar o perfil da agricultura brasileira, como ocorreu com a soja a partir dos anos 70, que se tornou um forte produto de exportação.

As perspectivas para a agricultura de grãos começaram a melhorar desde meados do ano passado, por causa da escassez do produto no mercado doméstico. Mas, segundo Silveira, a recuperação se intensificou a partir de outubro por causa de fatores externos. Tanto é que a venda de tratores e máquinas agrícolas já mostrou uma reação no último trimestre de 2006 e deve ter forte impulso neste ano. Também a venda de fertilizantes, estável em 2006, deve crescer pelo menos 7% neste ano.

Paulo Molinari, consultor da Safras & Mercado, também acha que a agricultura está saindo do buraco. "Não é a Alice no País das Maravilhas, mas certamente o agricultor começa a se equilibrar depois de um longo período de descapitalização.

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