RJ: parentes enterram vítimas da chacina e temem outras mortes

Inseparáveis em vida, os primos Marcus Vinícius Sipriano de Andrade, de 15 anos, e Francisco José da Silva Neto, de 34 anos, vítimas da chacina que deixou 30 anos mortos na Baixada Fluminense, quinta-feira, foram enterrados hoje (2), em sepulturas vizinhas, no Cemitério municipal Vale da Saudade, em Queimados. Em meio aos protestos, parentes das vítimas diziam temer por mais mortes, caso o crime demore a ser solucionado.

"Se os responsáveis não forem presos, mais mortes virão" disse Patrícia, de 31 anos, irmã de Marcus Vinícius. Ela revelou que as pessoas no bairro de Campo da Banha estão aterrorizadas e as crianças não querem sair de casa nem mesmo para ir à escola. Logo que cessaram os disparos, na noite de quinta-feira, seu filho de sete anos saiu de casa correndo e foi o primeiro a reconhecer Marcus entre as vítimas.

Cerca de 300 pessoas participaram do enterro das duas vítimas, a maioria levada em ônibus fretados pela prefeitura. Após o funeral, muitos parentes e amigos seguiram para a praça Nossa Senhora da Conceição, no centro da cidade, de onde saíram em passeata por um quilômetro com cartazes pedindo "Justiça" e "Paz" até o local do crime.

Marcus Vinícius e Francisco foram mortos a poucos metros de casa, enquanto conversavam na rua, com mais três amigos. Segundo a irmã do primo mais velho, Ana Paula, de 28 anos, por pouco o filho de Francisco, de apenas quatro meses, não foi baleado. "Ele estava nos braços do meu irmão, mas, por causa do sereno, minha cunhada resolveu levar a criança para a casa. Logo depois, vieram os tiros e o Francisco caiu no chão", disse.

Ela lamentou que o fiscal de supermercado tenha saído de casa na noite do crime apenas porque queria parabenizá-la por seu aniversário. "Francisco estava dormindo, acordou e decidiu ir à minha casa me dar um beijo. Parou no meio do caminho e aconteceu a tragédia."

Mãe de Marcus Vinícius, a dona de casa Dulcinéia Sipriano, 51 anos, contou que o garoto já estava cochilando no ombro do pai quando lembrou que precisava buscar umas cartolinas na casa do primo, que fica a cerca de 100 metros. "Ele tinha que levar o material para a escola, estava na sétima série. Era um menino muito estudioso, uma criança inocente. Porque fizeram isso com ele, meu Deus?", desabafou.

Ela revelou ainda que Marcus Vinícius era extremamente carinhoso, dava aula particular de matemática para dois alunos e já havia decidido seu futuro: queria entrar para a Marinha e ser ortopedista. "Isso choca e muito porque a gente espera que as autoridades façam o bem. Então, vamos recorrer a quem? ", reclamou Dulcinéia, revoltada com a possibilidade de policiais militares terem sido os responsáveis pelos assassinatos.

Segundo parentes, o bairro onde as vítimas moram é muito tranqüilo e as crianças costumam brincar na rua até tarde, por isso, todos ficaram surpresos com a chacina. "Agora, ninguém mais quer colocar o pé fora de casa", relatou.

Perguntada sobre o momento do assassinato, a dona de casa disse não ter visto nada, pois estava jantando com o marido com quem mora junto com mais cinco filho.

Presente à manifestação realizada após o enterro, Rubem César Fernandes, presidente do Viva-Rio, considera que o combate à violência requer uma mudança dentro das instituições responsáveis pela segurança pública, mas também na sociedade. Atualmente, segundo ele, impera a cultura da violência privada, onde as pessoas contratam segurança particular para conseguir proteção. "As pessoas estão com muito medo, mas não devem se deixar dominar. Porque isso é reproduzir o terror e é isso que eles querem", conclui.

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