Representante do Brasil no FMI defende autoproteção para sistema financeiro

Brasília – O representante do governo brasileiro no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Jr, fez nesta quinta-feira (24) um alerta sobre o que ele chama de "sintomas de fragmentação do sistema financeiro multilateral" e defendeu políticas prudentes voltadas para a autoproteção.

Paulo Nogueira Batista Jr fez palestra no sobre o Brasil e as Finanças Internacionais, no Itamaraty, onde também inaugurou o auditório Paulo Nogueira Batista, que homenageia o pai do economista.

Ele também acompanha a missão do FMI que visita o Brasil e à tarde tem encontro agendado com o Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Embora o Brasil não tenha mais dívidas com o FMI, por ser um de seus membros, tem as contas monitoradas periodicamente.

Segundo o economista os primeiros indícios dessa fragmentação são a perda de prestígio do próprio FMI e do Banco Mundial, particularmente a insatisfação, "muito acentuada", com a forma dessas instituições tratarem as crises. Ele citou como exemplo a atuação do FMI e do Banco Mundial durante a crise asiática, em 1997, que deixou insatisfeitos os países da região.

"Os asiáticos não ficaram contentes com a forma com que a crise foi tratada, a ponto de o Japão, logo depois, negociar a criação do Asian Monetary Fund (MF), barrado por pressão americana", disse.

A crise asiática abalou o sistema financeira mundial, na década de 90, em conseqüência do alto endividamento e da fragilidade econômica dos chamados Tigres Asiáticos (Hong Kong, Malásia, Indonésia, Tailândia, Cingapura, e Coréia do Sul).

O economista lembrou, porém, que a idéia da criação de instituições regionais não morreu e países como Japão, China, Coréia do Sul, Malásia, Tailândia, montaram, ao longo dos últimos anos, uma rede de cooperação monetária e cambial, que vem sendo gradualmente reforçada e pode se transformar a qualquer momento no AMF. Ele lembrou que iniciativas parecidas também estão sendo discutidas na América do Sul.

Segundo Batista Jr, a Ásia, por exemplo, está sub-representada nesses organismos multilaterais, mas tem potencial para ter uma instituição regional forte, com reservas monetárias elevadas lastreadas pela China, Coréia do Sul e Japão.

Ele disse que o assunto vem sendo acompanhado atentamente por europeus e americanos e já faz parte da pauta de discussões do FMI e Banco Mundial.

"Eles sabem que existe uma iniciativa séria e sólida construída ao longo dos anos e pode levar ao desenvolvimento de (outro) sistema multilateral financeira, caso os asiáticos não tenham uma representação maior", afirmou.

Outro fato citado por Nogueira Jr. para mostrar a "perda de importância relativa do FMI" é que até a década de 70, não era incomum que o Fundo emprestasse a países desenvolvidos, com "condicionalidades".

Porém, durante  o início dos anos 90, durante a transição observada na Europa para implantar a moeda comum, o euro, embora houvesse uma crise cambial gravíssima, o fato foi enfrentado por conta própria pelos países da região. "(Houve) um sistema de cooperação regional europeu próprio, sem pedir apoio ao Fundo Monetário Internacional", disse.

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