Reforma agrária não é medida pelo número de assentados, diz presidente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez, ontem à noite, uma defesa enfática da reforma agrária e da agricultura familiar. "Este País não vai para frente enquanto a gente não fizer a reforma agrária como tem de ser feita", afirmou Lula, ao abrir o 9º Congresso Nacional da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), que reunirá, até o dia 4, cerca de 3 mil participantes do Brasil e também do exterior.

"Este País não vai para frente enquanto o agricultor familiar não tiver do Estado brasileiro o respeito que tem de ter, porque se o agronegócio é importante, e o é, é importante a gente salientar que a agricultura familiar é tão importante ou mais importante do que qualquer outra coisa que se produza neste País. Os dois são muito importantes, e a agricultura familiar é importante não porque ela gera emprego, mas porque gera trabalho".

Em seu discurso, encerrado pouco antes das 23 horas, Lula chamou a atenção para os reflexos sociais da reforma agrária. "Cada menina que tiver oportunidade de ficar no campo, a gente sabe que ela não estará sendo vítima da prostituição infantil", afirmou. "Cada menino que estiver trabalhando no campo, a gente sabe que ele não será vítima do narcotráfico ou da bandidagem urbana", acrescentou, para reafirmar que "não é a pobreza que faz as pessoas virarem bandidas".

O presidente ressaltou que fará uma reforma agrária responsável. "Nós queremos fazer uma coisa diferente, e tenho convicção de que a reforma agrária não é medida pela quantidade de pessoas assentadas", afirmou, numa resposta indireta às críticas do próprio MST de que o governo não cumprira seus compromissos. Segundo ele, é preciso dar direito às pessoas de produzirem. Ele prometeu que não faltarão recursos orçamentários uma das reivindicações da Contag. "Não se preocupem com orçamento", afirmou.

Antes do discurso, feito de improviso e num tom inflamado, o presidente anunciou que, em junho de 2006, fará, junto com o Movimento dos Sem-Terra (MST) e agricultores familiares, uma avaliação concreta de tudo o que aconteceu no campo. Voltando-se para o presidente da Contag, Manoel dos Santos, que antes havia defendido a sua reeleição, Lula disse: "Se piorou, Mané, vocês pedem para mim: ‘Companheiro Lula, pede licença e vai embora".

Ao chegar ao congresso, Lula foi saudado com entusiasmo pelos trabalhadores que levantavam os bonés. Também vestindo um boné da Contag, ele iniciou seu discurso comentando o fato de um grupo de trabalhadores ter registrado sua presença com máquinas digitais. Disse que isso prova o avanço na renda deles a ponto de poderem comprar máquinas tão sofisticadas.

O presidente deu também, ênfase ao projeto de transposição de águas do Rio São Francisco, acrescentando ser necessário levar água para dez milhões de famílias. Disse que o projeto de revitalização do rio será feito logo que o Ministério do Meio Ambiente der o licenciamento ambiental.

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