Reasco recorda pobreza para brilhar no futebol brasileiro

O garoto chega ao clube para treinar e traz, numa sacola, a própria chuteira. O calção e as meias que utiliza – em campos de terra batida – também vieram de casa, lavados e passados pela própria mãe. Essa era a vida de Neicer Reasco, lateral do São Paulo, no começo da carreira, no modesto 3 de Julho, do Equador. "Era muito difícil, não havia estrutura para treinar, porque muitos times pequenos no meu país não têm estádios nem campos para treinamento", comenta Reasco, cotado para compor o meio-de-campo são-paulino com a saída do volante Mineiro.

A experiência do equatoriano é retrato de uma realidade parecida com a do futebol brasileiro, inclusive na função social do esporte. "No Equador, muitos garotos vêm de famílias pobres e o futebol os ajuda a ter uma vida melhor", afirma.

Há meio ano no Brasil, Reasco, de 29 anos, festeja a chance de atuar pelo São Paulo, depois de ótimas temporadas na LDU e na seleção equatoriana, que defendeu na Copa do Mundo da Alemanha. "O ambiente que envolve o futebol brasileiro é muito atrativo, sempre quis atuar aqui", garante.

Entre os companheiros de clube, Reasco já tem fama de brincalhão. Bem-humorado e adaptado a São Paulo, o jogador não perde uma chance de fazer piadas. "Parece que engoliu um palhaço: ri o tempo todo", brinca o meia Souza.

Reasco saiu da pobreza quando foi contratado pela LDU, depois de se destacar num torneio sul-americano sub-20, na Colômbia. Passou a defender um clube estruturado e até encontrou sua verdadeira posição. "Comecei como zagueiro, mas meus treinadores me mudaram para a lateral", conta. "Diziam que eu era muito baixo para atuar na defesa", lembra o jogador, de 1,69 metro.

Pela LDU, Reasco participou de sete Libertadores e foi campeão nacional quatro vezes, mas seu grande momento ocorreu no Mundial da Alemanha. "Era um objetivo desde criança representar o país num evento tão grande", comenta. "Foi maravilhoso entrar, ver o estádio lotado e cantar o hino.

E faltou pouco para os equatorianos chegarem às quartas-de-final. "Perdemos por azar para a Inglaterra. Ficou um sabor amargo", diz. "A boa campanha na Copa provou que o Equador não joga bem apenas na altitude, como muitos pensam", opina o lateral, que mantém a humildade. "Nas próximas Eliminatórias, temos de trabalhar sério, sem salto alto", observa. "Outras seleções vão querer se recuperar e teremos de nos esforçar para voltar à Copa".

Durante o Mundial, Reasco recebeu propostas da Argentina, México e Europa, mas honrou a palavra dada aos dirigentes são-paulinos."Já tínhamos um acordo e a oferta do São Paulo foi a melhor", contou o lateral.

A estréia com a camisa tricolor, na vitória por 2 a 1 sobre o Goiás, rendeu elogios ao equatoriano. Porém, uma lesão na fíbula o afastou do time. Após intenso tratamento, Reasco está recuperado. "Foi um período triste, até no Equador me cobravam quando eu iria jogar", conta. "Agora estou bem e com muita vontade de mostrar meu futebol", diz.

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