Realidade nacional

A crise do Espírito Santo ainda dará muito pano para manga. Tudo por conta da imensa dificuldade do professor Cardoso para governar, do cacoete que tem s. exª de contemporizar, empurrar os problemas com a barriga e, particularmente, proteger os amigos e apaniguados.

A conselho do procurador-geral da República, o notório dr. Geraldo Brindeiro, FHC recusou-se a intervir no Estado capixaba, governado pelo seu (dele) amigo e ex-ministro (da Defesa, imagine o leitor!) José Ignácio Ferreira. A intervenção federal foi uma reivindicação da própria população do Espírito Santo, hoje inteiramente dominado pela criminalidade, requerida pela Ordem dos Advogados do Brasil e acatada pelo ministro da Justiça efeagaciano, Miguel Reale Jr., um – digamos assim -neoliberal como FHC.

O pedido foi arquivado por s. exª. Talvez como parte das comemorações do segundo aniversário do Plano Nacional contra a Violência e sétimo do Plano Nacional de Segurança, lançados em Brasília, com toda a pompa, em junho de 2000 e em 1995, respectivamente, e que ainda não passaram do discurso. Isto é, como as demais obras de FHC, só tiveram resultados pífios. Com isso, s. exª desencadeou uma crise dos diabos. Reale Jr. deixou o governo chamando o presidente de mentiroso, levou junto metade do ministério e o Palácio do Planalto passou a ser alvo de uma saraivada de protestos bonita de se ver, incluindo o da OAB e o da Associação dos Magistrados Brasileiros.

Para a AMB, conforme registrou O Estado, o elevado grau de subordinação política do procurador-geral ao presidente da República “mancha a reputação do Ministério Público Federal perante o País”. Por sua vez, a OAB deixou de participar do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, ligado ao Ministério da Justiça, enquanto FHC estiver na presidência. Enquanto isso, os conselheiros e diretores da seccional capixaba da entidade voltaram a receber telefonemas anônimos com ameaças de morte:

– Ou vocês param de se meter onde não são chamados ou o pau vai comer e muita gente vai amanhecer com a boca cheia de formiga.

É o Estado-paralelo em ação. Mas o domínio pleno da corrupção, da criminalidade e da violência não é um privilégio do belo Espírito Santo. E nem é mais preciso evocar-se os surrados exemplos do Rio de Janeiro e de São Paulo. O crime organizado é, hoje, uma realidade nacional. De dentro dos presídios de segurança máxima, protegidos pelo Poder Público, os bandidos atiçam a marginalidade, comandam o espetáculo e transformam-nos em reféns. Aqui mesmo, no Paraná lerneriano, “um Estado que pensa e faz para a gente”, e nesta “Capital Social” taniguichiana, todo mundo está nas mãos do bom Deus. Vivemos engaiolados, monitorados por câmaras e microfones e quando saímos de casa não sabemos como voltaremos. Se voltarmos. Que segurança temos nós, paranaenses e curitibanos, nas ruas, no trânsito, nos automóveis, no trabalho ou nas escolas? E eu não estou me referindo ao período noturno, à escuridão da noite e às regiões mais isoladas. Refiro-me à luz do dia, com o sol a pino, e ao centro da cidade e às zonas mais estreladas.

Mas, como sabemos, Fernando Henrique Cardoso e seu (dele) fiel seguidor aqui na terra das araucárias, o nosso dinâmico Jaime Lerner, não nasceram para governar, ambos têm enorme dificuldade para decidir e não suportam envolver-se em temas comezinhos e enfastiantes como a segurança pública, a proteção do desagradável gentio. Como homens do mundo, nasceram para pensar, para ter idéias, para analisar os grandes problemas internacionais, com a tranqüilidade e a sabedoria dos gênios.

Deus salve o rei! Ou na linguagem globalizada e no vernáculo-padrão: “God save the king!” E fim de papo.

Célio Heitor Guimarães é, como você, leitor, apenas um desamparado e angustiado cidadão.

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