Quanto maiores os juros, maior é a fome

A maior preocupação do governo é o controle da inflação. Ele está certo, ótimo!

Segundo o nosso ministro da Fazenda, a “inflação corrói o salário do trabalhador”. E, sem inflação estabilizada em índices civilizados, os juros não poderão baixar, mesmo que sejam escorchantes, perdulários e de certa forma oficialmente permitidos.

Vale tudo em nome do compromisso de combater a inflação. Mesmo essa vaidosa disputa entre os bancos para ver qual deles têm o maior lucro e paga mais imposto de renda.

Ou os bancos não são taxados nos seus lucros? Era só o que faltava!

Às vezes desconfio que essa estratégia de juros altíssimos para conter a inflação tenha como objetivo maior uma arrecadação ainda maior de impostos pelos poucos que realmente estão lucrando, os bancos.

Mas, quem realmente está pagando juros neste País?

Enganam-se aqueles que acham que só os que detêm belos cadastros, administram negócios altamente lucrativos e possuem lastro para garantir seus empréstimos é que pagam juros. Pode até parecer que sejam eles, mas o repasse é automático e quem acaba, de fato, pagando essa vergonhosa conta dos juros altíssimos são os mais pobres.

Imagine aquele trabalhador que para conseguir um pouco mais de um salário mínimo faz horas extras, que mora longe, tem três filhos pequenos, paga aluguel, luz, água, etc. Dia 25, quando recebe o “vale” ou adiantamento, vai direto ao armazém pagar o que comprou fiado. Se não pagar, não compra mais, passa fome. Dia 5 recebe o resto do salário e corre pagar o saldo.

Por sua vez, o dono do armazém, que não é nenhum capitalista, também comprou a prazo, pagando com os famosos “pré-datados”. E lá, claro, estavam embutidos os “jurinhos”. O fornecedor-distribuidor ou atacadista que fornece ao armazém, por sua vez, também não é nenhuma potência econômica e, para dar prazo, precisa de capital de giro, o qual, claro, também vem acrescido dos “custos financeiros”.

No final das contas acaba sobrando justamente para aquele que mais trabalha e menos ganha; sobra misteriosamente para aquele que mesmo sem ter cadastro ou conta em banco é o que mais juros paga. Ele nem faz as contas para saber quanto lhe custa manter o seu crédito. Simplesmente vai dando graças a Deus porque o armazém ou o pessoal do mercadinho lhe conhece e vende fiado.

Hoje, curiosamente, a maioria dos brasileiros não come comida, come juros. Hoje, a grande maioria dos brasileiros não veste roupa, veste juros.

A lógica é simples: mesmo ganhando pouco, o trabalhador poderia comprar mais comida, mais roupas, mais conforto para si e sua família se, no custo daquilo que compra não viessem, como sempre vêm, embutidos os juros aviltantes, os custos financeiros “legalizados”.

Afinal, o que mais corrói o salário de um trabalhador, é a inflação ou são os juros?

Concluindo: dizem os bancos que os custos financeiros no Brasil são “altos” porque a inadimplência é grande.

Grande é essa desculpa! Tenho convicção de que o brasileiro é um dos mais pontuais pagadores deste planeta. Quanto mais simples, mais honra os seus compromissos e o seu nome.

Enquanto muitos brasileiros, vivendo tantas dificuldades, buscam soluções clamando aos céus, para os “donos” do dinheiro a desvairada fome de juros altos se contrapõe frontalmente com o nosso empenho para zerar a fome neste País.

A ganância tem limites!

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