Proteção da soja com baculovírus sob ameaça

O uso inadequado das técnicas de combate às pragas da sojicultura, em especial a lagarta da soja, além de aumentar o custo de produção está colocando em risco um dos mais bem-sucedidos programas de monitoramento integrado para a cultura. E o que é pior: já provocou um retrocesso na área tratada com o baculovírus (o inimigo natural da lagarta) de 750 mil hectares nos últimos três anos. O alerta é do pesquisador da Embrapa Soja (Londrina-PR) Flávio Moscardi, um dos conferencistas do Workshop Internacional sobre Desenvolvimento da Agricultura Tropical, realizado esta semana em Brasília.

Moscardi chamou a atenção dos cientistas para que reforcem a importância da aplicação do programa de monitoramento integrado de pragas, que atualmente tem um dos passos básicos usado de forma errada. Isso porque os agricultores não fazem a avaliação da incidência da lagarta na lavoura e, sem este dado fundamental, passam a aplicar inseticida emergente de forma empírica, numa fase em que a planta está pequena, comprometendo a entrada do baculovírus. Esse equívoco provocou uma redução de 2 milhões de hectares na safra 2002/03 para 1,3 milhão de hectares tratados com o baculovírus, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Apesar da preocupação e da necessidade de retomar o passo a passo correto para o programa, Flávio Moscardi diz que o Brasil é referência mundial quando o tema é controle biológico. Segundo ele, o uso de agentes para controlar naturalmente a broca da cana-de-açúcar, a cigarrinha da cana, cigarrinha da pastagem, pulgões na lavoura de trigo e a traça do tomateiro têm representado economia e preservação do ambiente. Somente com o manejo integrado de praga na soja a economia é muito maior do que os 20 milhões de litros de inseticidas químicos ao ano que deixam de ser usados, considerando o benefício social que a tecnologia proporciona.

Outra recomendação de Moscardi é maior atenção dos produtores, extensão rural e da própria pesquisa para pragas que surgiram com o ambiente propiciado pelo plantio direto (técnica mais utilizada no plantio de grãos). A umidade da palha, entre outros fatores, desencadeia o surgimento de organismos (caracóis, por exemplo) que prejudicam a produção. ?Por isso precisamos estar atentos para desenvolver técnicas para controlar esses problemas que vão aparecendo e uma das medidas é a rotação de cultura?, recomenda o pesquisador. 

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