Promessas do primeiro mandato de Lula ficaram no papel

Quem pretende ouvir nesta segunda-feira (1.º) o segundo discurso de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve estar cauteloso e atento – afinal, a maior parte das promessas de sua contundente mensagem de mudança feita no Congresso, há quatro anos, não chegou a ser cumprida.

O alardeado programa Fome Zero não existe mais e sofreu alterações ao longo dos quatro anos, transformando-se no Bolsa-Família. O Primeiro Emprego não saiu do papel, só atendendo a 0,5% dos jovens que pretendia ajudar. A reforma agrária ?pacífica, organizada e planejada? foi condenada pelos próprios aliados a ponto de, na quinta-feira passada, o líder do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, pedir o fim do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

A promessa de crescimento também não se concretizou e ela será, mais uma vez, a vedete do novo discurso. O presidente vai reiterar hoje que quer avançar para um crescimento mais vigoroso e acelerado, mantendo a estabilidade monetária e a responsabilidade fiscal. Esta promessa da estabilidade foi cumprida, contra todo o antigo discurso revolucionário do PT. Mas a frase ?criar empregos será a minha obsessão? não resultou em nada concreto. Anunciada em janeiro de 2003, a promessa não chegou nem perto da metade do que se afirmou em campanha: a disposição de criar 10 milhões de empregos. Segundo dados do Ministério do Trabalho, no final de 2006 seria possível chegar perto de cinco milhões de novos empregos com carteira assinada.

Reformas

Há quatro anos, ao falar ?das reformas que a sociedade brasileira reclama? e que ele se comprometia a fazer, o presidente Lula citou as da Previdência, tributária, política e da legislação trabalhista. As duas primeiras foram iniciadas, mas esbarraram em fortes reações e acabaram paralisadas, a ponto de o atual governo nem querer ouvir falar do assunto. Daquelas quatro, somente a reforma política voltará a ser defendida hoje.

Apesar da criação da Controladoria Geral da União, a frase dita por Lula, segundo a qual ?o combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo? foi questionada diariamente, principalmente nos dois últimos anos do primeiro mandato. Naquele dia, Lula bradou: ?Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar.? Até as últimas horas ainda se discutia a conveniência, ou não, de se abordar o tema no discurso.

Em 2003, o presidente mencionou também a violência, dizendo que haveria uma ?política de segurança pública muito mais vigorosa e eficiente?, que seria ?capaz de prevenir a violência, reprimir a criminalidade e restabelecer a segurança dos cidadãos e cidadãs? para que as pessoas pudessem ?voltar a andar em paz pelas ruas e praças?. Lula chegou a afirmar que havia uma ?nuvem ameaçadora? que precisava se dissipar, ao citar que ?os crimes hediondos, massacres e linchamentos crisparam o País e fizeram do cotidiano, sobretudo nas grandes cidades, uma experiência próxima da guerra de todos contra todos?. Os ataques do crime organizado em maio, em São Paulo, e nos últimos dias, no Rio de Janeiro, mostram que esta promessa também não foi cumprida.

Ao assegurar, em 2003, que este País ia dar ?um verdadeiro salto qualidade? e investir ?em capacitação tecnológica e infra-estrutura voltada para o escoamento da produção?, Lula fez outra de suas promessas não cumpridas. Nas próximas semanas ele quer lançar um pacote para destravar o País, anunciando investimentos em infra-estrutura para ?voltar a crescer com distribuição de renda?. Semelhante anúncio já havia sito feito há quatro anos.

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