Projeto da TV Digital é avaliado em R$ 100 bi e muda ânimo de políticos

Brasília – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está prestes a definir o padrão de TV digital a ser adotado pelo País, depois do fracasso do projeto técnico de um sistema genuinamente nacional anunciado pelo governo em 2003. Não é uma escolha simples. Trata-se do maior negócio em andamento no Brasil desde a privatização do setor de telecomunicações, em 1997, durante o primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

Estima-se que a troca do sistema analógico pelo digital movimentará algo em torno de R$ 100 bilhões até 2010, incluindo a venda de conversores, televisores, celulares e receita publicitária e de assinantes dos novos serviços que o sistema permitirá criar. Os estrategistas eleitorais do projeto de reeleição do presidente Lula querem transformar a decisão em troféu de campanha, apresentando-o como exemplo de modernização e acesso do País ao primeiro mundo

Estão em jogo interesses empresariais e políticos de três modelos – o japonês, o europeu e o norte-americano -, além dos interesses das grandes redes de televisão brasileira. O Palácio do Planalto parece inclinado a escolher o sistema japonês. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, defendeu o modelo japonês na terça-feira em depoimento na Câmara dos Deputados e hoje (1) no Senado. Costa deseja que o presidente da República anuncie sua decisão dentro de duas semanas

A questão da TV digital tornou-se o grande tema do governo nas últimas semanas, a ponto de ter contaminado até mesmo o comportamento de setores da oposição nas CPIs dos Correios e dos Bingos. Como número expressivo de parlamentares mantém vínculos políticos e empresariais com as grandes redes de TV – quando não são eles próprios os proprietários das empresas, eles passaram a avaliar os custos empresariais e eleitorais de atuações que possam, de qualquer maneira, atrapalhar o processo decisório em curso no governo

O Palácio do Planalto vê na decisão a oportunidade de atender as redes e produtoras de TV, talvez não por acaso no início da campanha de reeleição do presidente Lula. Ao mesmo tempo, o presidente deseja exibir no seu último ano de mandato, e na campanha por mais quatro anos, o trunfo de ter melhorado o padrão de imagem da televisão, o que espera conseguir já na transmissão dos jogos da Copa do Mundo de Futebol da Alemanha, em junho. Os estrategistas de marketing do governo se preparam também para a transmissão digital do desfile de 7 de setembro, que neste ano, no auge da campanha presidencial.

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