Professora da USP diz que rádio e TV precisam de regulamentação

?Rádio e televisão são concessões públicas, mas operam como empresas privadas. A premissa da concessão nas comunicações é que as empresas levem informação, entretenimento e cultura ao público, mas elas não cumprem nenhuma das três?, disse. ?Em países menos letrados, como o Brasil, o impacto da mídia televisiva é muito grande. Atualmente, a sociedade tem suas discussões pautadas pela mídia, debatemos o que ela nos diz para ser debatido, e mais, nos termos em que está dito.?

A professora da USP deu como exemplo a Guerra do Afeganistão, deflagrada pelos EUA depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. A guerra, lembrou, saiu do enfoque dos meios de comunicação após o início do conflito no Iraque. ?As notícias entram e saem de cena sem maiores explicações. A princípio, parece que a Guerra do Afeganistão já acabou, o que não é verdade?, observou.

Olgária também criticou a cobertura dos meios de comunicação sobre casos de corrupção no poder público. ?Repete-se à exaustão que há corrupção, ficamos indignados, mas não se discute o que leva à corrupção, que é a inexistência de educação republicana, do entendimento do que é um bem público – que, no Brasil, é entendido como bem de ninguém?, afirmou.

Permissividade ? A professora crê, entretanto, que há um longo caminho a ser percorrido até a regulamentação. ?Nem mesmo definir horários para a exibição de programas impróprios conseguimos. Sempre que se fala em regulamentar, diz-se que há censura, há repressão. Não é verdade. Mas a sociedade brasileira é muito permissiva, e a regulamentação só faz sentido se houver um acordo coletivo?, argumentou.

Exemplo da permissividade brasileira, segundo Olgária, são os programas de televisão que exibem crianças dançando coreografias de forte apelo erótico. ?Ninguém toleraria isso em qualquer outro país do mundo, mesmo na América Latina. Mas nós temos emissões permanentes de coisas de péssima qualidade. É possível haver entretenimento sem barbárie, sem circo romano. O estado não pode ser refém das empresas de comunicação?, disse.

Projeto civilizatório ? A saída é a educação e a formação cultural da população, acredita a professora da USP. ?Na França, quando da Revolução, fez-se a seguinte pergunta: o que fazer para transformar uma população num povo, com identidade, valores comuns e vaidade de participar daquele conjunto de aspirações? A resposta foi educação. Na França, a alta cultura foi entendida desde o começo como elemento de coesão social?, falou.

?Me pergunto se há projeto civilizatório para o Brasil. Acredito, ainda, que a palavra é uma barreira contra a violência. Mas não é possível educar só um pouco. Precisamos de educação formadora. A literatura, por exemplo, é um laço social. Se o Brasil não entender isso, vai gastar muito dinheiro com educação e não vai resolver o problema?, argumentou Olgária.

A convite do secretário da Educação, Maurício Requião, Olgária Chain ainda fez palestra nesta terça-feira aos professores da Rede Estadual de Ensino inscritos no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), no Canal da Música. À noite, ela participou da abertura do 1.º Seminário de Cultura de Campo Largo (Região Metropolitana de Curitiba).

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