Produtores pedem medidas para o trigo

Solicitar junto ao governo federal contratos de opção de venda, tanto públicos como privados, simplificar a legislação de cabotagem a fim de facilitar escoamento da safra e viabilizar o PEP (Prêmio de Escoamento do Produto), e reivindicar recursos que possibilitem o financiamento para a estocagem da produção. Estas foram algumas propostas definidas no Fórum do Trigo, que aconteceu nesta semana em Curitiba. O objetivo do evento foi discutir a produção, comercialização e o escoamento do trigo da safra 2005.

Os participantes lembraram que o trigo já foi a principal fonte de renda de muitas propriedades. Porém, atualmente, é cultivado graças à perseverança de alguns produtores. Para os representantes de diferentes elos da cadeia produtiva do trigo, os gastos não compensam. Segundo eles, no momento da venda, o produto não tem preço.

O vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, ressaltou que não é a primeira vez, nem vai ser a última, que lideranças e produtores se reúnem para discutir o assunto. ?A situação do trigo já foi profundamente discutida várias vezes com técnicos do Ministério da Agricultura e com o ministro Roberto Rodrigues. O pessoal da Faep, Ocepar e Seab já debateram exaustivamente o assunto com o ministro. Quem sabe agora, num esforço conjunto com os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, conseguimos mudar esse quadro?, disse.

Apesar do clima, o Brasil deve produzir nesta safra cerca de cinco milhões de toneladas de trigo. Para o presidente da Co-operativa Castrolanda, Franz Borg, é inexplicável que mesmo com a diferença produção/consumo seja difícil vender o grão. Segundo ele, a situação é reflexo do custo inflacionado, causado pelo câmbio, que cria dificuldades desde a última safra. ?A Ocepar tem buscado junto ao governo federal intermediar essa situação, sugerindo medidas emergenciais, como contratos de opção de compra e venda para 24 milhões de toneladas, adotando preço de 450 reais por tonelada, PEP para reduzir o estoque, entre outras?, disse.

Borg ainda sugeriu acabar com a importação de farinha na forma de pré-mistura e adotar a equalização do ICMS entre todos os estados. O presidente da Castrolanda criticou o sistema de cabotagem. ?É um entrave, que eleva o custo do frete, já que o serviço está nas mãos de poucos?, afirmou.

Ele também lembrou que o trigo é um produto de segurança nacional. ?O Brasil se esforça para garantir pelo menos 50% de suas necessidades e, hoje, se vê diante dessa situação difícil de ser solucionada?, criticou.

O presidente da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), Ágide Meneguette, disse que os produtores caíram numa armadilha. ?De um lado, o governo incentiva a plantar. De outro, não adota medidas positivas para quem planta?, afirmou.

Ele lembrou que há muita dificuldade para vender o trigo, pois os preços estão abaixo dos estabelecidos pelo governo, o que inviabiliza a comercialização. ?O preço está tão baixo que o produto hoje substitui o milho na ração animal?, reclamou.

Consumo

O consumo de trigo no Brasil está estagnado há cinco anos. Esta foi a crítica do presidente da Abitrigo, Roland Guth. ?A moagem não cresce, não há crescimento de consumo nem do trigo, nem dos derivados. As causas são o não-crescimento de renda da população, a excessiva carga tributária e a entrada maquiada da farinha argentina no País, que é a pré-mistura. Sem contar a guerra fiscal, predatória para os moinhos, e que também influencia na comercialização de grãos, com desvantagens competitivas frente a outros estados?, comentou.

Segundo Guth, esses problemas precisam ser resolvidos para melhorar a liquidez do trigo nacional. Sem isso, a situação tende a se agravar ainda mais nos próximos anos. ?Temos que partir para uma política mais agressiva. Como a do Chile, que hoje é quase auto-suficiente. Aquele país barrou a entrada de trigo e taxou a farinha de outros países, dando preferência ao produto chileno?, disse.

O Fórum do Trigo reuniu cerca de 140 pessoas, entre profissionais da área comercial, produtores, representantes de cooperativas e indústrias, membros dos governos federal e estadual. O evento foi promovido e realizado pela Secretaria da Agricultura, Ministério da Agricultura, Ocepar e Faep.

Existem limitações orçamentárias

Durante o evento, o diretor de Abastecimento do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos, falou sobre as políticas governamentais para a comercialização e o escoamento do trigo. Segundo ele, o anseio do governo federal é o mesmo do produtor. ?Mas existe limitação orçamentária para atender todas as reivindicações. Se os pleitos da Secretaria da Agricultura, Ocepar e Faep fossem aprovados, os gastos, só para apoiar a comercialização, seriam de R$ 1,4 milhão?, revelou.

Para o representante do ministério, a situação do preço é conseqüência do câmbio. Na ocasião, ele apresentou uma proposta de comercialização, já adotada para outros produtos. ?É o mecanismo de opção privada para a safra futura?, destacou.

Segundo ele, para a região sul do País o governo federal disponibiliza R$ 571 milhões. ?Esse apoio representa de 40% a 50% da safra no estados do Sul, além dos financiamentos normais. É mais fácil operar esse instrumento que o PEP?, comentou.

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