Produtor é orientado a manter a cultura da soja

Apesar da crise por que passam os produtores de soja no Brasil, não é hora de trocar a cultura por outra. A recomendação é do pesquisador da Emater, Fernando Storniolo Adegas. Ele coordenou o 4.º Encontro Regional da Cultura da Soja, que aconteceu esta semana, durante a Exposição Agropecuária de Londrina.

O pesquisador argumenta que está complicado encontrar uma alternativa para a soja. O milho, uma opção em grãos, está com os preços ainda piores que a soja. Enquanto a saca de soja está em US$ 9,50, US$ 10,50, a saca de milho está em R$ 4,50 em Mato Grosso. O problema, conforme Adegas, está no câmbio do dólar, que está achatado. ?A soja já se estabeleceu, é uma cultura estável. Se o clima tivesse ajudado… A melhor saída agora talvez seja redução da área de plantio e racionalizar sem abrir mão do custo-benefício e da produtividade?, orienta.

A indicação de Adegas para o produtor que pretende substituir a soja por outra cultura é a cana-de-açúcar, já que uma boa perspectiva diante da necessidade do álcool. Mas, ele alerta que isso só é viável para áreas próximas a usinas. ?Se o clima ajudar, o produtor de soja vai dar uma suspirada na próxima safra. Mas para se recuperar, talvez só daqui a duas safras?, prevê.

Clima instável

O clima, fundamental para o sucesso ou insucesso na cultura da soja, é justamente um dos fatores que o produtor não consegue controlar. ?Infelizmente ainda não temos mecanismos de controle artificial do clima. Temos que aprender a viver com as alterações climáticas?, lamenta o meteorologista Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), de Curitiba.

O meteorologista adianta que até o final deste ano o clima no Brasil vai se comportar como em 2005, em função do fenômeno La Niña que atinge o País em fraca intensidade. Segundo ele, os índices de precipitação devem continuar abaixo do normal. Mas, o grande problema, conforme o pesquisador, continuará sendo a má distribuição das chuvas.

Com relação às temperaturas, Lazinski orienta os produtores a tomarem cuidado com as entradas de massas frias, já que as mudanças de temperatura devem ser muito bruscas. ?O perigo de geadas, no Paraná, só deve existir nas regiões mais altas acima de 800 metros. No norte do Estado, não?, completa.

Mas como ele ressalta, os produtores estão mais interessados mesmo é em saber do clima nos Estados Unidos, maior produtor de soja do mundo, interferindo diretamente no mercado brasileiro. Lazinski afirma que os índices de precipitação nos EUA devem ser normais. Mas os produtores americanos devem enfrentar o mesmo problema de má distribuição das chuvas. ?Eles também terão períodos de veranico. O difícil, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, é saber quando e quanto vai durar?, afirma.

As previsões do meteorologista são baseadas em mapas fornecidos pelo Instituto Internacional (IRI) e o Instituto Americano (CPC).

Mercados alternativos

No diagnóstico do gerente comercial da Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar), José Cícero Aderaldo, se não houver um problema climático nos EUA, o produtor brasileiro de soja vai enfrentar dificuldades. Segundo dados apresentados por ele, a área de plantio americana foi ampliada para 31 milhões de hectares, recorde nunca visto antes.

Se a gripe aviária não chegar ao Brasil, na análise de Aderaldo, pode ser uma oportunidade em 2007. Mas se chegar, segundo ele, será um risco porque 290 toneladas de soja foram embarcadas para exportação em março. Outro fator que pode favorecer a soja brasileira são os transgênicos. A tendência, segundo ele, a exemplo da Argentina, é o avanço dos transgênicos. Se isso acontecer, Aderaldo afirma que haverá aumento da soja tradicional. ?O Brasil é a última oferta de soja convencional e ele vai ganhar o prêmio?, avalia.

Entre as alternativas de mercado, Aderaldo cita o uso da soja na alimentação humana com os sucos e queijos, além do consumo direto dos grãos e farinha. Além disso, existe o biodiesel. A determinação, conforme ele, é que 2% do consumo de diesel seja na forma de biodiesel. ?A soja é o que se mostra mais favorável para o biodiesel. É mais uma janela de consumo que se abre, dando maior sustentação para os preços?, analisa.

Como o mercado da soja é globalizado, Aderaldo afirma ser praticamente impossível dominar todos os fatores que interferem no mercado. ?Tudo afeta o preço da soja, para subir ou cair. O que é extremamente importante é a programação da comercialização. Não se pode deixar o vencimento do débito ditar o momento da venda?, resume. Segundo ele, essa atitude é tão importante quanto manter a qualidade do produto.

Voltar ao topo