Presidente aclamado

Presidente do Chile desde março de 2000, Ricardo Lagos vai passar a faixa ao substituto a ser eleito no dia 15 de janeiro próximo, em segundo turno, tendo em vista que Michelle Bachelet, candidata da Concertación, coalizão da democracia cristã e do socialismo, não conseguiu a maioria dos votos no último domingo.

Todavia, o presidente Ricardo Lagos vai deixar o governo muito mais admirado por seu povo do que ao sentar na cadeira mais importante do país há cinco anos. Lagos é festivamente aclamado pelos populares, ao contrário de muitos chefes de Estado na América Latina.

O êxito do presidente Ricardo Lagos se deveu em grande medida ao aprofundamento da reforma constitucional e do aniquilamento de inúmeros entraves deixados pela ditadura do general Augusto Pinochet. O principal foi o cancelamento da nomeação biônica do ex-ditador para o Senado da República e a abertura dos arquivos militares.

Atualmente, o Chile está em fase de excepcional crescimento econômico e invejável distribuição de renda, embora 18% de sua população ainda seja considerada pobre. A candidata da Concertación, primeira desde o afastamento de Pinochet a não conseguir a maioria, enfrentará o centro-direitista Sebastian Piñera, num pleito renhido que antecipa total envolvimento das maiores forças políticas chilenas.

Para os analistas, o aparente tropeço de Michelle Bachelet, mesmo com a extraordinária popularidade do presidente Ricardo Lagos, seu eleitor número um, indica claramente um virtual cansaço da população com os governos socialistas.

É também um dado preocupante para os assessores da candidata a esperada aliança direitista em torno de Piñera, cuja avaliação inicial é trabalhar para conquistar no segundo turno os 23,25% dos votos dados agora a Joaquim Lavin, o outro postulante da direita.

Deve-se louvar, contudo, o fato exemplar da solidez do regime democrático instalado no Chile após os anos de chumbo da ditadura militar. O general Augusto Pinochet é atualmente um cadáver político, sem direito a voz ou voto num cenário que ele próprio maculou ao chefiar o sangrento golpe contra Salvador Allende.

A opção do povo chileno pela ordem democrática é um soberano gesto de afirmação para as demais nações latino-americanas, além de tornar inabalável a certeza de que somente com liberdade e garantias individuais se pode conquistar progresso duradouro.

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