Prejuízos com ataques no Líbano passam de US$ 2 bilhões

A atual crise no Líbano é a pior da região desde que Israel invadiu o país pela última vez em 1982. Os prejuízos causados por ataques israelenses à infra-estrutura libanesa já ultrapassaram US$ 2 bilhões, o que é muito dinheiro na maior parte dos países, mas que para este representa astronômicos 10% do PIB (o total das riquezas produzidas em um ano). O início das hostilidades não tem nem duas semanas ainda e pontes, portos, estradas e prédios já estão destruídos.

O turismo, um dos principais motores da economia, foi fortemente prejudicado. Dono de uma ótima fama entre os árabes, o Líbano é realmente um país belíssimo, com um mar azul escuro de um lado e as montanhas bem perto da costa de outro. Além disso, os libaneses têm a reputação de serem gente com a cabeça aberta, cosmopolitas, algo pouco comum entre os vizinhos muçulmanos. Em tempos de paz, a balada em Beirute é animada, com jovens em bares e festas até bem tarde da noite. É por tudo isso que milhares de sauditas, kuwaitianos, gente rica de países produtores de petróleo e também europeus costumam passar as férias aqui.

Este ano, as autoridades libanesas esperavam receber 1,5 milhão deles. Os que estavam quando o Hezbollah invadiu Israel, matou três soldados e seqüestrou outros dois foram embora. Quem tinha reserva cancelou. E quem ainda planejava a viagem deve ter dado graças a Deus que era apenas uma idéia.

Os hotéis de luxo de Beirute só não estão totalmente vazios porque os jornalistas do mundo inteiro chegaram. Há também funcionários de empresas de segurança. Em alguns deles os preços das diárias até baixaram. Ontem no começo da tarde, horário local, a área central da cidade, totalmente reconstruída depois do final da guerra civil, estava vazia. O normal nesta época de férias de verão seria ver uma multidão de turistas nos cafés, restaurantes e lojas de artigos de luxo. Até mesmo as empresas não ligadas ao setor do turismo fecharam as portas. No Petit Cafe, havia apenas funcionários sentados nas mesas. O restaurante abriu ontem pela primeira vez desde o dia 13 e atendeu apenas seis clientes. Em um dia normal, teria servido mais de 1.500.

Companhias estrangeiras com filiais no Líbano estão transferindo seus funcionários para outros países. A Procter & Gamble, por exemplo, está deslocando parte dos empregados, junto com o marido ou a esposa, para o Egito. A empresa pretende tocar os negócios de lá.

Tratamento Psicológico

No centro da região reconstruída de Beirute, onde há um relógio, havia hoje apenas um grupo de quatro mulheres e um homem sentado no restaurante Place de L’Etoile. Eram membros da Associação Libanesa para o Desenvolvimento Infantil, uma ONG voltada para crianças de zero a oito anos. O maior drama do país hoje é justamente a questão humanitária. De acordo com os últimos dados, até agora já morreram 340 civis e 1.100 estão feridos. Estimativas sobre o número de refugiados variam de acordo com a fonte. A ONU trabalha com 500 mil pessoas que abandonaram suas casas e estão no Líbano e 150 mil que foram para a Síria.

O foco da ONG que fez reunião ontem no restaurante Place de L’Etoile é o tratamento psicológico de crianças. "As pessoas tendem a não dar importância para essa questão, mas ela é fundamental", disse o doutor Ali Zein, presidente da associação, que não arrisca uma estimativa sobre o número de crianças em abrigos atualmente. Em maior ou menor medida, as crianças passaram por pelo menos uma experiência traumática: bombardeios, o abandono das casas, pessoas mortas no caminho ou até mesmo familiares. Quando saem das regiões mais críticas, chegam em abrigos que fornecem água, comida e cama. "A partir de segunda-feira, queremos que comecem a ter tratamento psicológico", promete o doutor Zein.

A parte mais difícil do trabalho é a organização. A associação conta com uma lista de 100 psicólogos, psiquiatras, orientadores pedagógicos e universitários que estão em casa sem fazer nada, mas dispostos a ajudar. O problema é montar os programas, acertar com as autoridades e mandar os profissionais aos abrigos.

Os programas são divididos em três partes: ajuda psicológica, educação e brincadeiras. "Este ano, Israel inovou ao cortar todas as ligações do Líbano com o exterior por terra, mar e ar. Essa pressão tem como meta atingir o governo libanês para que combata a influência do Hezbollah. Um dos efeitos colaterais disso é o aumento do sofrimento psíquico entre os civis. Estamos sendo atacados e não temos para onde correr", diz o doutor Zein.

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