Sindicalista escapa de atentados após denúncias

Atiradores despejaram balas de arma automática contra um sobradinho desbotado da Vila Prudente, em São Paulo, onde mora o sindicalista João de Souza Neto, o João da Ford. Eram 2h45 da madrugada de quarta-feira. Cinco tiros furaram o capô e o para-brisa dianteiro do carro dele e o batente de madeira da porta da casa. Um projétil varou o vidro da janela da frente e grudou na parede da sala, dois palmos acima do móvel de cerejeira. João e sua família saíram ilesos da fuzilaria, mas ele suspeita que sua hora está chegando. “Da próxima vez, eles vão jogar uma bomba para explodir a minha casa.”

A vida do cearense de 64 anos ficou por um fio, como ele diz, depois que lhe atribuíram o papel de mentor de denúncia sobre um certo patrimônio – imóveis em São Paulo e Ilhabela, automóveis de luxo e uma pousada – que pertenceria a Genival Beserra Leite, fundador e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Terceirizados (Sindeepres), vinculado à União Geral dos Trabalhadores (UGT).

João foi assessor de Genival por quase três anos, desde janeiro de 2007. “No início de setembro, fui proibido de entrar no sindicato. Foi depois que espalharam a papelada até na CUT falando dos bens dele.” O panfleto apócrifo aponta “como Genival construiu a maior fortuna do movimento sindical brasileiro”.

As balas da madrugada não foram as primeiras endereçadas para João. Na última sexta-feira, um carro entrou na Coelho Neto, rua de duas mãos, e passou vagarosamente em frente à casa do sindicalista. Os tiros alvejaram o para-choque do carro de João. Mas isso não foi tudo. Em 22 de setembro, um desconhecido jogou gasolina e ateou fogo na garagem.

Ele admite não ter provas do envolvimento de Genival nos atentados, mas comunicou sua suspeita à 56ª Delegacia. No boletim de ocorrência 5.128/09, Genival consta como “averiguado”. João informou que “acredita que os fatos estejam relacionados a um desentendimento ocorrido quando era assessor do presidente”.

O presidente do Sindicato dos Terceirizados não se manifestou. O jornal O Estado de S. Paulo tentou ouvir Genival desde quarta-feira. Sindicalistas dizem que ele é vítima de “campanha difamatória” e de intrigas, dado o sucesso que alcançou ao conduzir o Sindeepress e à posição de destaque. Desafetos tentariam extorquir seu dinheiro.