Sem terra invade Câmara e arrebenta o que encontra

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Ato de vandalismo deixou um rastro de destruição nunca visto no interior da Câmara dos Deputados.

O ato de vandalismo que reuniu cerca de 600 (dos quais 539 foram presos) integrantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) deixou um rastro de destruição nunca visto no Congresso, causando prejuízos que até a noite de ontem a direção do Legislativo ainda não tinha conseguido contabilizar. Para romper o portão de vidro da entrada do anexo 2 da Câmara, os ativistas usaram como máquina de guerra um Fiat Mille vermelho, repetindo cena descrita nos livros sobre as guerras bárbaras medievais.

Arrebentada a porta e estilhaçados os vidros, os manifestantes atacaram o carro com pedaços de pau, barras de ferro e paralelepípedos apanhados na rua. Colocado para exibição pouco antes da entrada do anexo 2, o carro nem tinha placas e seria sorteado numa festa de São João da Associação de Servidores da Câmara (Ascade).

Vencido o primeiro obstáculo, a turba quebrou oito computadores usados para cadastrar visitantes da Câmara, danificou o detector de metais e atacou os terminais de auto-atendimento usados, principalmente, por grupos de turistas. Depois que o clima acalmou, havia no saguão em ruínas pedras com pontas de vergalhões de aço, sandálias e camisetas.

A entrada destruída pelos ativistas fica a cerca de 150 metros do plenário, em que são realizadas as sessões da Câmara. Logo no início fica o Espaço Mário Covas, no qual estava um busto de bronze do ex-governador tucano. Os vândalos jogaram o busto de Covas no chão. A peça rolou a escadaria que leva ao Auditório Nereu Ramos e parou de pé.

Bem ao lado era feita a publicidade de um seminário para tratar da gripe aviária. Painéis foram ao chão e os encarregados de distribuir os folhetos se refugiaram na entrada da Biblioteca da Câmara. Um pouco à frente, servidores da Câmara mostravam todas as experiências que conseguiram fazer para melhorar plantas do cerrado. Não ficou nada em pé.

No caminho, havia novamente uma porta de vidro, que separa o setor de taquigrafia do plenário, a menos de cem metros do Salão Verde, o maior da Câmara. A porta também foi arrebentada. No chão, ficaram montes de cacos de vidro. Depois, com pedaços de pau, os manifestantes quebraram o gesso que serve de quebra-luz para exposições de arte. Dessa vez, estão expostas na galeria retratos de mulheres parteiras, entre elas Canô, mãe do cantor e compositor Caetano Veloso.

Em seguida, a turba conseguiu invadir ao Salão Verde e a proteção de aço da coluna que fica em frente ao plenário foi arrancada. A escultura de bronze de Alfredo Ceschiatti, datada de 1977 e que simboliza um anjo, serviu para que alguns dos manifestantes nela trepassem. A escultura, de 1,80 metro de altura por 1,63 de largura e 0,86 de profundidade, resistiu.

Depois de quase duas horas de negociação, os militantes e integrantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) renderam-se. Às 18h11, o diretor da Coordenação de Polícia Judiciária, Alber de Paula, ladeado pelos deputados Robson Tuma (PFL-SP) e Moroni Torgan (PSDB-CE), deu a ordem de prisão em flagrante para cerca de 600 manifestantes que ainda se encontravam nos gramados em frente ao Congresso. Presos e recolhido ao Ginásio Nilson Nelson, os integrantes do movimento ficaram sob custódia da Polícia Militar do Distrito Federal para serem identificados.

Os que estiveram à frente dos atos de vandalismo poderão ser processados por tentativa de homicídio, danos ao patrimônio público e formação de quadrilha. A identificação dos responsáveis começou ontem a partir de imagens e fotos feitas durante a invasão.

O coordenador nacional do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) e secretário nacional dos movimentos populares da Executiva Nacional do PT, Bruno Maranhão, foi detido por oito seguranças da Câmara dos Deputados por volta das 17 horas, logo depois de retirar cerca de 600 militantes sem terra que invadiram e depredaram o Congresso Nacional. Depois de uma tumultuada entrevista, quando apresentou uma pauta de reivindicações, Bruno foi cercado por seguranças e detido.

Aldo diz que vai continuar correndo riscos

Brasília (AE) – A invasão e depredação da Câmara, ontem por manifestantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), não significarão um novo esquema de segurança na Casa. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), afirmou que prefere correr riscos a distanciar a Casa dos movimentos sociais. Ele ressaltou, no entanto, que não permitirá violência na Câmara. Rebelo, que determinou a prisão dos manifestantes, disse que entrará com ações penais contra os invasores e também cobrará na Justiça os prejuízos materiais causados ao prédio do Congresso.

"Não vou sacrificar a vocação democrática da Câmara por causa desse acontecimento", afirmou. "O episódio não servirá de pretexto para que a Câmara se transforme numa instituição afastada da sociedade. Esta Casa estará permanentemente aberta para receber todos os movimentos legítimos do povo brasileiro, mas, ao mesmo tempo, não será admitida qualquer forma de violência e de intimidação", continuou.

Rebelo admitiu que, se fosse necessário, os invasores, que ficaram no Salão Verde da Câmara por cerca de uma hora e 30 minutos, seriam retirados pela Tropa de Choque da Polícia Militar, que ficou do lado de fora do prédio do Congresso. "Determinei a prisão de todos; como efetivar as prisões, eu iria examinar as condições de forças. Seria feita a partir da própria força da Casa ou, não sendo possível, a outra possibilidade", afirmou.

 

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