Responsabilidade social e seus desdobramentos na sociedade

“Uma das invenções do espírito europeu foi a filosofia da história, ou seja, a idéia de que a história humana, diferentemente da natureza, está em contínuo movimento e este movimento tem uma direção e uma finalidade”.

Norberto Bobbio

É reconfortante imaginar que estamos em constante movimento, que a humanidade não está estática vendo os problemas modernos as engolirem e sim buscando soluções e mecanismos que façam com que um dia possamos acreditar em uma sociedade mais justa e mais humana.

O grande antropólogo Ralph Linton classificou a sociedade em conformistas e não-conformistas, sendo que o segundo da classificação seria o motor do progresso, seria ele o responsável por aprimorar, organizar e estruturar as tarefas de cada cidadão. O momento do Brasil é de não conformismo. Precisamos cada vez mais de pessoas que não se conformem com o que está acontecendo. Seja nos órgãos públicos, nas empresas, enfim, a mudança está no ar em nosso país.

No campo político, temos hoje no Brasil a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que enquadrou os Estados e Munícipios. Prefeitos e governadores devem gastar o dinheiro público e depois explicar minuciosamente seus gastos. Antes da LRF, prefeitos e governadores gastavam o dinheiro público sem o menor compromisso com a continuidade do próximo governo. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi um avanço sem tamanho, não tenho dúvida, mas ainda é pouco. É preciso que o político moderno discuta com a população, antes de gastar o dinheiro público, quais são as prioridades da comunidade. Experiência desta natureza, tive eu como vereador quando no mês de maio de 2003 discuti em audiência pública em um bairro da cidade de Curitiba sobre a lei de diretrizes orçamentárias (LDO) para 2004. A audiência foi um sucesso, com grande participação da comunidade. Foi um exercício de democracia, com a população decidindo aonde deve ser investido o dinheiro público. Acredito que mudanças como esta os homens públicos devem começara praticar a partir de agora, quando se vive um novo tempo, de democracia exacerbada, aonde a população pede encarecidamente que os políticos tenham respeito pelos eleitores e ouçam as suas vontades e carências.

Na idade moderna, com o crescimento e fortalecimento dos Estados nacionais o governo acabou se convertendo em um tutor da sociedade e a ela se sobrepôs com frequência excessiva. Mas há um consenso de que o governo é incompetente para resolver, sozinho, os problemas dos munícipios, Estados e do próprio país. Problemas como o do menor abandonado, da fome, da miséria , que não podem esperar políticas públicas para serem solucionados. É aí que entram as empresas socialmente responsáveis. A cidadania corporativa ou Corporate Citizenship como chamam os britânicos, ou o humanismo empresarial dos espanhóis, está em voga nos dias de hoje também no Brasil.

As práticas do velho modelo assistencialista do estado estão dando lugar as aplicações do mundo dos negócios, buscando eficiência e qualidade de serviços nos trabalhos públicos. As empresas hoje estão preocupadas com políticas voltadas ao meio ambiente (como é o caso de O Boticário), cultura (o Banco do Brasil incentiva as mais diversas manisfestações culturais), a educação (a Xerox do Brasil com projetos educacionais em favelas), saúde (creme dental Kolynos que leva informações preciosas sobre a prevenção de doenças bucais) entre outras tantas empresas que prestam serviços que antes eram funções exclusivas do Estado.

Ao adotar uma postura socialmente responsável a empresa incorpora valores essenciais para ser admirada por toda a população além de construir uma sociedade socialmente mais justa e solidária. São programas de alfabetização de população carente, de combate a desnutrição, enfim, os ideais mais elevados que uma empresa pode oferecer a seus cidadãos. Palmas para estas empresas. Que seus exemplos sejam seguidos cada vez mais.

Esta mudança de mentalidade, seja dos políticos que discutem orçamento público com a comunidade, seja das empresas que não somente se preocupam com seus balanços patrimoniais mas com balanços sociais também , são um sopro de esperança para um país que está cansado de ser chamado de “país do futuro”. Arregaçem as mangas, homens de ação do Brasil, pois o público e o privado devem lutar com todas as suas forças para colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece no cenário mundial.

Fábio Camargo

é vereador de Curitiba, vice-presidente da Câmara Municipal. fcamargo@cmc.pr.gov.br

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