Requião pede a cabeça do presidente do BC

Pouco antes de viajar ontem a Brasília, onde participaria como convidado do jantar com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o presidente chinês Hu Jintao, o governador Roberto Requião (PMDB) disse em Curitiba que iria pedir a demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Segundo o governador paranaense, o presidente deveria demitir Meirelles e consertar a orientação econômica do governo.

“Com toda a gentileza de que sou capaz, vou dizer ao presidente que ao invés de blindar o Meirelles (que ganhou o status de ministro de Estado) que ponha o Meirelles na rua”, disse o governador durante uma palestra no Seminário de Qualificação dos prefeitos e vice-prefeitos eleitos do PPS, realizado no auditório do Senac, em Curitiba.

Requião atribuiu o fracasso eleitoral do PT nas cidades de médio e grande porte à política econômica do governo que, para o governador paranaense, tem no presidente do Banco Central um dos seus principais formuladores e executores. “Parece que o PT não aprendeu. Foi derrotado exatamente onde as classes médias estão se pauperizando”, afirmou o governador.

A eleição de Lula foi descrita por Requião como resultado, principalmente, da rejeição do modelo neoliberal pela classe média. “Essa política econômica foi derrotada duas vezes”, disse o governador, citando que a primeira foi quando Lula foi eleito. “O Lula ganhou a presidência da República pelas suas qualidades pessoais, que não são poucas, e pelo seu carisma. Mas principalmente porque o Brasil rejeitou o modelo neoliberal do Fernando Henrique Cardoso. Parece que o PT não aprendeu”, comentou.

A principal crítica do governador paranaense a Meirelles foi a defesa feita pelo presidente do Banco Central da redução do aporte de poupança exigida dos bancos pela legislação. Conforme determinação do Banco Central, as instituições financeiras são obrigadas a aplicar parte dos depósitos que recebem na agricultura ou em outras áreas definidas pelo planejamento do governo. “Ele é o neoliberalismo absoluto, a subordinação do país ao mercado de uma forma drástica. Nós não somos um mercado. É preciso uma visão nacional civilizada, inteligente, que leve em consideração as necessidades da população”, atacou.

Governador critica petista

A proposta de apoio crítico ao governo do Estado feita pelos deputados petistas André Vargas, padre Paulo Campos e Tadeu Veneri irritou o governador Roberto Requião (PMDB), que reagiu ontem à tarde declarando que nenhum deputado deve se alinhar incondicionalmente ao governo. “Todos os deputados, de qualquer partido, inclusive do PMDB, devem dar apoio crítico ao governo”, rebateu.

Requião comparou sua postura na relação com a base aliada ao comportamento do personagem de história em quadrinhos criado pelo cartunista Henfil, o Fradim, cuja marca era a mordacidade. “Não sou o Fradim que chupa cérebros. Quero cérebros vivos, pensantes, nacionais”, afirmou o governador que, entretanto, foi para o ataque contra Veneri e padre Paulo quando foi questionado sobre a proposta de reajuste de salários dos secretários de Estado, aprovada em primeira discussão pela Assembléia Legislativa, e criticada pelos petistas. “Quanto ganha um deputado estadual? (R$ 9,5mil) Quanto eles têm de verba para pagar pessoal? (R$ 30 mil) Quanto eles têm de verba de ressarcimento? (R$ 27,5 mil) Dá mais de R$ 60 mil. Perguntem aos deputados o que eles acham do salário dos secretários? Como é que eles prestam contas destes R$ 27,5 mil (verbas de ressarcimento)? Como é que o Tadeu Veneri e o padre Paulo prestam contas destas verbas? O padre Paulo poderia construir uma igreja por mês com esse dinheiro”, provocou.

O governador comentou ainda, em tom zombeteiro, o artigo assinado pelo assessor especial Benedito Pires acusando os deputados petistas de “fisiologismo” por questionarem o apoio incondicional da bancada ao governo. “Tem pessoas muito radicais como o Benedito Pires que escrevem estes artigos. Eu sou um anjo de doce”, ironizou.

Prefeitos terão tratamento igual

O governador Roberto Requião afirmou ontem que vai trabalhar junto com as prefeituras do Paraná e que todos os prefeitos eleitos, independente de sigla partidária, terão apoio da administração estadual. “Todos os novos prefeitos serão recebidos por mim e terão o governo do Estado como parceiro”, garantiu Requião, no encontro dos prefeitos eleitos do PPS.

Requião lembrou que foi eleito governador com o apoio do PPS e que todos os membros do partido são considerados parceiros. “Esses novos prefeitos eleitos entram em um ano muito bom porque eles terão a possibilidade de estruturar rapidamente os municípios ou já terão os municípios estruturados”, disse o governador, referindo-se ao decreto que exige que todas as cidades tenham um plano diretor para poder receber recursos do Estado.

“Eu, há muito tempo, me convenci que investimentos feitos a partir da estrutura municipal são muito mais positivos. São os pequenos empreiteiros locais que executam as obras e os recursos ficam nos municípios”, disse Requião. O secretário de Desenvolvimento Urbano, Renato Adur, também participou do encontro e fez uma palestra sobre a política de desenvolvimento do Estado.

O governador também fez um breve balanço da sua administração e informou que nesses 22 meses cancelou R$ 450 milhões referentes a contratos de informática firmados sem licitações e outros R$ 180 milhões referentes a empenhos de obras irregulares ou não realizadas. “Eu imaginei que teria uma chuva de processos judiciais. Não tive nenhum. Os fornecedores não receberam e silenciaram porque sabiam que os contratos eram absolutamente irregulares”, comentou.

Requião também relatou a venda de ações da Sanepar e a assinatura do pacto de acionistas que passou aos sócios minoritários o controle acionário da empresa. A construção da UEG Araucária com recursos da Copel também foi relatada. A usina, que pertence também à empresa americana El Paso, nunca entrou em funcionamento por problemas técnicos na sua concepção.

Daniel Godoy pede exoneração

O advogado Daniel Godoy, assessor especial do governador Roberto Requião, pediu ontem exoneração do cargo por razões de natureza pessoal e profissional. Godoy afirmou que pretende dedicar mais tempo a seu escritório de advocacia, o que não era possível em função das múltiplas tarefas que ele assumira no governo. Godoy manifestou apoio ao governador e às suas posições sobre a economia nacional.

Também na manhã de ontem, Nizan Pereira foi empossado como secretário especial de Assuntos Estratégicos. O cargo foi transmitido pelo presidente da Companhia de Informática do Paraná (Celepar), Marcos Mazoni, que acumulou a função de secretário durante o período em que Nizan esteve afastado para disputar as eleições municipais em Curitiba. “Na prática, o trabalho continua, com ênfase na inclusão social, que é a marca do governador Requião”, disse Nizan.

Mazoni disse que 18 telecentros estão em funcionamento e que, na próxima terça-feira (dia 16), será aberto o pregão eletrônico para a compra de equipamentos para a instalação de mais 60 telecentros no Estado.

A posse de Nizan na Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos contou com a presença do secretário-chefe da Casa Civil, Caíto Quintana; e dos secretários da Saúde, Cláudio Xavier; da Educação, Maurício Requião; da Comunicação Social, Airton Pissetti; e do Turismo, Celso Caron.

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