Requião compra briga com setores do PT

Ao agradecer ontem a sua bancada de sustentação na Assembléia Legislativa pela aprovação de projetos de interesse público, o governador Roberto Requião (PMDB) comprou mais uma briga com setores do PT. Durante a solenidade de assinatura da lei que isenta os pequenos agricultores inscritos no Programa Panela Cheia das dívidas com valor de até R$ 35 mil junto ao extinto Banestado, o governador pediu aplausos à base aliada, mas ressalvou que não pode contar com alguns deputados do PT. Segundo o governador, existe um "PT sério" que vota com ele e "outros cabras que viraram Delúbio", referindo-se ao ex-tesoureiro do PT, que está sendo acusado de operar um esquema irregular de financiamento de campanhas eleitorais.

Na solenidade, o único representante da bancada era o deputado Elton Welter, apontado pelo governador como um dos seus aliados. "O PT sério está conosco. Tem outros que não sei o que aconteceu. Estão possuídos pelo capeta", ironizou Requião, que disse estar cumprindo os compromissos de campanha assumidos quando fez a aliança eleitoral com o PT, em 2002.

No início do discurso, ao citar como as dívidas dos agricultores haviam crescido em função dos índices de correção aplicados pelo governo anterior, o governador havia criticado o ministro da Fazenda, Antônio Palocci e a política de juros altos. "É o diabo que administra os juros no Brasil. O capeta está encarnado no Palocci. Se eu fosse o Lula, chamaria um padre exorcista para tirar o capeta do Palocci", disse.

As declarações de Requião foram rebatidas pelo líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa, Tadeu Veneri, que considerou ofensivos os comentários feitos pelo governador. Para Veneri, a citação do governador foi uma demonstração de desrespeito ao partido e à bancada. "Quando o governador diz que há um PT sério, que vota com ele, e outro que virou Delúbio, está atingindo a todos igualmente e faltando com a devida consideração a um partido que tem garantido a aprovação de várias das matérias que ele envia à Assembléia Legislativa", afirmou.

Veneri disse que o governador está tentando interferir na autonomia do partido.

"A bancada estadual do PT assumiu uma posição de independência em relação ao governo do Estado e vários dos seus nove deputados exercem a prerrogativa de votar a favor das propostas que atendam ao interesse público e de questionar projetos e ações que contrariem os direitos dos trabalhadores ou sobre as quais haja dúvidas sobre os benefícios que trazem à população. O governador não pode pretender que abdiquemos das nossas prerrogativas", afirmou.

Projeto

A lei sancionada ontem, pelo governador, permite ainda o parcelamento em até 36 vezes, com desconto, de débitos iguais ou inferiores a R$ 250 mil. Para a liquidação integral da dívida em uma única parcela, os mutuários terão 50% de abatimento. O governador disse que tem disposição de discutir a situação dos mutuários com débitos acima de R$ 250 mil. No primeiro grupo, o do perdão integral das dívidas, o valor da renúncia do governo foi de R$ 66 milhões.

Requião afirmou que os juros e multas incidentes sobre as dívidas foram uma herança do governo Lerner. E que eliminou os "juros sobre juros" que estavam sendo cobrados dos agricultores. O governador explicou que mesmo os agricultores que tenham suas dívidas acima de R$ 250 mil poderão ser beneficiados pela anistia. Se no recálculo dos valores, com a retirada dos juros e multas, o total for inferior a R$ 35mil, o mutuário também terá seu débito perdoado.

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