Requião ataca o Planalto e vota “não”

Um compromisso em Cascavel fez com que o governador Roberto Requião quebrasse o hábito de votar no período da manhã. Ao meio-dia, ele chegou ao Colégio Estadual Júlia Wanderley e antes mesmo de ir às urnas deixou clara a sua intenção de voto. "Sou absolutamente contra a proibição da comercialização de arma porque não se pode tirar o direito de escolha do cidadão. Trata-se de uma desídia do governo federal, que quer desviar do verdadeiro foco da violência", disse o governador, em tom crítico em relação à política de combate à violência do governo federal.

Quem votou no mesmo local foi o deputado federal Abelardo Lupion (PFL), um dos delegados do "Diga não à proibição", desenvolvida e disseminada no Paraná. Na camisa que trajava, o adesivo da campanha deixava bem clara a convicção do deputado. "Trabalhamos em cima dessa idéia, tentando fazer um trabalho forte de conscientização. O que está em questão é a idéia, que por sinal vai contra o direito da legítima defesa assegurado na Constituição federal", argumentou.

O ponto chave no discurso de Lupion é a quebra do preceito maior da democracia: a liberdade. "Hoje o governo quer proibir a comercialização de armas. Amanhã, sabe-se lá o que será proibido", defende.

Calma

Atento ao processo eleitoral do referendo, Lupion comentou que seus pares de bancada asseguraram que, assim como aconteceu em Curitiba, a votação ocorreu sem maiores incidentes. "É uma votação atípica e calma no Brasil inteiro, pelas informações que temos. Não tem aquele movimento de boca de urna e a disputa acirrada pelo voto dos indecisos. Mas isso não tira a importância do processo. Justamente por isso, trabalhamos firme na campanha pelo não", finalizou.

Direito à legítima defesa

Ao chegar ao Colégio Estadual Amâncio Moro, no Jardim Social, onde vota, o prefeito Beto Richa explicou aos jornalistas que precisou estudar muito o assunto antes de tomar a sua decisão. "Procurei analisar as campanhas com muito interesse, matérias divulgadas, os exemplos de outros países e gostaria de anunciar que votarei pelo desarmamento. Mas em função da triste realidade que vivemos hoje no Brasil, com a impunidade, onde o Estado não nos oferece o mínimo de segurança, nós não podemos negar ao cidadão de bem o direito à legítima defesa que é direito constitucional, poder proteger o seu patrimônio, o seu lar, defender a sua família", declarou.

Richa destacou que sua decisão foi fortalecida porque o próprio Estatuto do Desarmamento é muito rigoroso. "Hoje, para um cidadão ter registro de arma precisa ter pelo menos 25 anos, fazer teste psicológico, ter aptidão para o uso de arma, certidão de antecedentes criminais. Acredito que isso já é suficiente. Proibir o comércio de armas no Brasil seria muito radical até tomando como base países de primeiro mundo, onde isso não resolveu. Não podemos imaginar que desarmando os cidadãos de bem nós vamos diminuir a criminalidade no Brasil", defendeu Richa.

Outro momento

Para o prefeito, o referendo poderia ter sido realizado em outro momento. "As discussões sobre a corrupção, o mensalão e a eventual cassação de parlamentares no Congresso Nacional, foram deixadas de lado, mas agora, com o fim do referendo, este assunto volta à tona e as pessoas vão voltar a se interessar", disse. A primeira-dama e presidente da Fundação de Ação Social, Fernanda Richa, também votou "não".

Desmotivação e equívocos

O vice-prefeito Luciano Ducci chegou às 10h30 na sede do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná, no Cabral. Falou a duas emissoras de rádio sobre suas restrições ao referendo e sua opção pelo "não" (favorável ao comércio de armas e munições) e não escondeu que iria votar desmotivado.

"É uma votação equivocada em termos conceituais, extemporânea. Isso explica a presença de poucos cidadãos nos locais de votação no meio da manhã de um dia de sol", declarou. O vice explicou que seu voto foi "contrário ao que acredito, que é a cultura da paz, e favorável à opção que considera a falta de investimentos em segurança e contra as injustiças sociais que dão causa à violência".

Voltar ao topo