Relatório do Ministério Público irrita secretário da Saúde

O promotor de Justiça de Ponta Grossa Fuad Faraj apresentou ontem, na frente do secretário estadual da Saúde, Gilberto Martim, seu relatório sobre mortes por falta de leitos ou negligência médica nas unidades de saúde do município.  

O encontro ocorreu em uma audiência da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa. Segundo Faraj, de agosto de 2003 a setembro de 2007 morreram 432 pessoas que aguardavam um leito de hospital, das quais, 234 na fila de espera por uma UTI. De acordo com o promotor, os dados foram coletados nos próprios hospitais, já que a secretaria da Saúde se negou a fornecer os números oficiais. ?Segundo as famílias dessas vítimas, todos estavam cadastrados na central de leitos, e esperavam na fila por uma vaga?, disse. Fuad também afirmou que em alguns casos houve negligência médica.

O secretário Gilberto Martim se irritou com as declarações do promotor e disse que ele não tem como provar os números. ?Não é verdade que essas pessoas morreram na fila de espera. Se alguma família entrar na Justiça contra o Estado vai perder, pois não tem como provar?, falou. O secretário contestou a forma como os dados foram levantados pelo promotor, e disse que não foi usado nenhum relatório médico ou diagnóstico real. ?É um levantamento puro e simples. E não dá para associar óbito a negligência. Acho que o número de mortos no hospital é normal. Não seria normal se fosse em uma escola?, comparou o secretário.

Para o presidente da comissão, deputado Ney Leprevost (PP), a realização da audiência foi ?extremamente positiva?, pois, além de colocar pela primeira vez em uma mesa de reunião o promotor e o secretário, ?incomodou? o governo, que já anunciou algumas ações para melhoria da saúde pública nos Campos Gerais. ?Assim que anunciamos a presença do promotor aqui, o governador foi a Ponta Grossa e anunciou investimentos na região?, comentou. Leprevost disse que, na sua opinião, os números apresentados por Fuad Faraj são verdadeiros, mas dão margem para uma série de interpretações. ?Conheço a região e sei que é onde há os maiores problemas de falta de leitos. Mas isso não significa que é por negligência do governo. Em nenhum momento o promotor disse que a morte de pessoas por falta de leitos é por culpa exclusiva do governo do Estado?, declarou.

Diante do impasse entre as partes, a Comissão de Saúde da AL se comprometeu em solicitar uma auditoria para o Ministério da Saúde e para o Tribunal de Contas. Já o promotor garantiu que iria fazer uma reunião como as famílias dessas vítimas para elas decidirem se entram ou não com ações de indenização contra o Estado. 

Voltar ao topo