PT tenta renascer das cinzas no dia 18

A disputa interna do PT, que no próximo dia 18 elege as direções nacional, estaduais e municipais, vai decidir o destino do maior partido de massas da América Latina, cuja sobrevivência está ameaçada por uma crise sem precedentes em seus vinte e cinco anos de história.

O chamado "Campo Majoritário", que dirige o partido há dez anos e é o mais atingido com as denúncias de compra de apoio ao governo no Congresso Nacional e de financiamento irregular de campanhas eleitorais, tenta manter sua hegemonia, apesar do fortalecimento das correntes de esquerda, que crescem à medida do acirramento das acusações contra o governo. Além do poder interno, está em jogo também a sustentação à política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Entre os filiados e lideranças do partido, a análise é que uma vitória do Campo Majoritário significa que pouco vai mudar no PT, que continuaria na sua política de alianças amplas e sobretudo, prosseguiria dando suporte à política econômica executada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, ele mesmo um dos expoentes do grupo que comanda o partido, que vem se confundindo com o governo. Com um diretório sob o comando da esquerda, as avaliações apontam para uma pressão sobre Lula para alterar seu modelo econômico e forçar sua reaproximação com os movimentos sociais e de resgate do projeto original do partido. Seria o grito de independência do PT em relação ao governo de Lula.

O ex-ministro da Previdência e do Trabalho, Ricardo Berzoini, é o porta-voz do grupo que esteve no comando das articulações para a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Berzoini foi indicado candidato a presidente após duas renúncias: a do ex-presidente José Genoino, acuado também pelas denúncias de irregularidades na administração do partido, e a de Tarso Genro. Substituto de Genoino no comando do partido, o ex-ministro da Educação tomou para si a difícil tarefa de dirigir o partido em meio à crise e ao mesmo tempo concorrer à reeleição. Saiu de cena após ser derrotado na defesa da saída do ex-ministro José Dirceu da chapa.

Fragmentos

A esquerda do partido está representada na eleição por quatro candidaturas: a do ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, que tem o apoio da corrente Ação Popular Socialista, a do deputado federal Raul Pont, da tendência Democracia Socialista, de Walter Pomar, da Articulação de Esquerda, do militante Markus Sokol, de O Trabalho, e ainda do independente Luiz Gonzaga da Silva. Entre os dois lados, está a candidatura da deputada federal gaúcha Maria do Rosária, da corrente Movimento PT, uma ramificação do Campo Majoritário.

Plínio, Pomar e Pont começaram uma negociação para unificar as candidaturas no início do processo eleitoral, mas os interesses específicos de cada grupo prevaleceu sobre o desejo de unidade. Mas em caso de a eleição do dia 18 se prolongar para um segundo turno, esses grupos devem se juntar contra Berzoini.

Mas se perderem, a saída do partido é o desfecho mais provável. Embora em pleno momento eleitoral, essa possibilidade não seja cogitada publicamente, nos bastidores, a informação é que a esquerda se vai e junto com ela vários mandatos de deputados federais do PT. Um fenômeno que poderá ser mais intenso em São Paulo e em alguns estados onde siglas como o PSOL e o PSB estão estruturadas e exibem o perfil adequados aos "excluídos" do poder no PT. 

Um comando investigado e pressionado

Pelo menos dez integrantes da chapa do Campo Majoritário estão envolvidos em denúncias de corrupção, sem contar os que se afastaram da direção nacional do partido, como o ex-presidente José Genoino, o ex-secretário Silvio Pereira e o ex-tesoureiro Delúbio Soares. Um dos líderes petistas da maior tendência do partido sobre os quais pesa alguma denúncia é o deputado federal e ex-ministro José Dirceu, citado como o chefe do "mensalão".

Outro eminente líder petista envolvido em denúncia é o ex-presidente da Câmara Federal, deputado João Paulo Cunha. A mulher de Cunha, jornalista Marcia Regina Milanesi, sacou R$ 50 mil da conta de Marcos Valério, no Banco Rural. Cunha chegou a dizer que o dinheiro era para pagar uma conta de TV a cabo, mas confessou usar o dinheiro para campanha do PT em Osasco.

O deputado José Mentor recebeu R$ 180 mil de uma empresa de Marcos Valério, enquanto o deputado Paulo Pimenta teve de renunciar à vice-presidência da CPI do Mensalão depois de tentar incluir documento que recebeu de Marcos Valério na garagem do Congresso. O deputado João Magno, seu irmão e um assessor colocaram as mãos em R$ 130 mil de Marcos Valério. E o deputado Professor Luizinho sacou R$ 20 mil do Banco Rural. O deputado estadual José Nobre Guimarães, do Ceará, irmão de José Genoino, entrou na lista porque um assessor foi flagrado com mais de R$ 500 mil escondidos na cueca e numa mala, em Congonhas.

Mônica Valente está na chapa. Ela é mulher de Delúbio Soares, ex-tesoureiro e considerado um dos principais responsáveis, ao lado de Marcos Valério, pela enrascada em que o PT se meteu. O ministro Antônio Palocci está sendo acusado pelo advogado Rogério Buratti de receber R$ 50 mil por mês quando era prefeito em Ribeirão Preto, de uma empresa que tinha contratos com a Prefeitura.

E, finalmente, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, acusado em Londrina por Soraya Garcia de envolvimento em um esquema de caixa dois na campanha de reeleição do prefeito Nedson Micheleti.

Apesar de tudo isto, o comando petista está certo de que vai vencer as eleições internas do partido. Mas, desta vez, com dificuldades, apenas no segundo turno. Líderes de várias correntes acreditam que o candidato do Campo Majoritário ao comando da legenda, Ricardo Berzoini, sairá vitorioso na votação do dia 18, mas não terá margem para encerrar a disputa, como fez José Dirceu em 2001.

Esquerda do PT pensa em novo partido

Parlamentares do Bloco de Esquerda Parlamentar, grupo dissidente do PT, consultaram no começo do mês o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a possibilidade de constituírem novo partido político, sem exigências burocráticas da legisação partidária. A informação foi dada pelo deputado federal Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ). Ele disse ter feito a consulta em reunião com o presidente da corte, ministro Carlos Velloso, que prometeu responder na próxima semana. Segundo o deputado, há um precedente: ironicamente, o PSDB, formado a partir de uma dissidência do PMDB, em 1988.

"Quem levantou pela primeira vez essa idéia foi o deputado Walter Pinheiro (PT-BA)", contou Biscaia. O caminho usual para constituir um novo partido político é complicado, exigindo a constituição de diretórios em certo número de municípios e estados, o que, pela falta de tempo, inviabilizaria a iniciativa dos dissidentes.

Embora haja deputados da esquerda petista dispostos a ingressar no PSOL da senadora Heloisa Helena (AL), muitos parlamentares resistem à idéia por acharem a nova legenda muito radical. Também há dúvidas sobre a viabilidade eleitoral e até legal do novo partido, ainda à espera do seu registro definitivo.

E há ainda um complicador: o Processo de Eleições Diretas (PED) da nova direção do PT, em 18 de setembro, no qual podem votar todos os filiados ao partido e torna indefinido o quadro. A nova legenda seria alternativa para quem quer sair do PT mas não quer ir para o PSOL. Mas, primeiro, eles querem esperar o resultado das eleições do dia 18.

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