PMDB não é assalariado de Lula, afirma Requião

requiao111204.jpg

Requião: "Para que serve
um partido sem projeto?".

O governador Roberto Requião (PMDB) afirmou, ontem, em Foz do Iguaçu, que o PMDB não pode se tornar um "partido assalariado" do Palácio do Planalto, que troca apoio político por cargos.

"O partido não pode ser anulado em troca de cargos. Para que serve um partido sem projeto? Para fazer leasing de deputado?", questionou o peemedebista, ao deixar a reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

No seu discurso de abertura do evento, Requião fez duras críticas ao modelo econômico do governo Lula, que, segundo ele, apenas reproduz as políticas dos governos Collor e FHC. "Eu gosto do Lula, mas não gosto do modelo que ele segue", disse o governador, admitindo que, entre os peemedebistas como ele, que defendem um desembarque do governo, também há aqueles que pensam o contrário, ou seja, gostam do modelo mas não do presidente.

Mesma linha

É o caso do presidente do partido, deputado Michel Temer, e de outros ex-apoiadores do governo tucano. "Quanto a mim, estou seguindo a minha linha antiga. Era contra a política do Fernando Henrique, e a política do Palocci (o ministro da Fazenda, Antônio Palocci) é igual à do FH", disse Requião. Segundo ele, manter os cargos no governo federal é "uma pequena compensação para não pensar, para não discutir, para se tornar um partido assalariado".

Requião alertou para o risco da retomada do desenvolvimento econômico se tornar insustentável. "Os impostos compartilhados, Imposto de Renda e IPI, respondiam por 80% da arrecadação e as contribuições representavam 20%. Hoje, esses impostos respondem por apenas 40%. A mudança acabou com a capacidade de investimento dos estados e só serve para pagar dívida externa", salientou. "O crescimento do país é tudo, menos sustentável. A submissão absoluta às regras do mercado não trará o desenvolvimento, mas o caos."

Apoio

O governador argumenta que não quer retirar o apoio do PMDB ao governo, mas apenas retirar os ministros do governo. Os outros dois governadores do PMDB no sul do Brasil – Germano Rigotto, no Rio Grande do Sul, e Luiz Henrique, em Santa Catarina – também possuem uma posição semelhante. Mesmo Luiz Henrique, que foi um grande aliado de Lula nas eleições de 2002, agora prefere a independência ao atrelamento ao Planalto. Na prática, isso deixaria o partido livre para lançar uma candidatura própria à Presidência em 2006. Entre os sulistas do PMDB, por exemplo, já há quem aposte numa candidatura de Rigotto para a Presidência.

Ex-líder do governo Fernando Henrique, o gaúcho começou seu mandato com um discurso de aliado federal, que na prática anulou a oposição do PT em seu território, e aos poucos começou a se tornar uma espécie de porta-voz dos governadores do Sul. Nos últimos meses, passou à ofensiva contra o governo federal por causa de pendências da reforma tributária, como o ressarcimento dos estados exportadores.

PR enviará 37 delegados

O PMDB do Paraná será representado em Brasília, amanhã, por 37 convencionais, que viajam hoje para decidir junto com delegados de todos os estados se o partido permanece ou deixa o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Há uma semana, o diretório estadual definiu em reunião que o PMDB do Paraná iria votar pelo afastamento do governo, numa linha que o governador Roberto Requião definiu como independente. O presidente do diretório regional, deputado Dobrandino da Silva, estima que pelo menos trinta delegados seguirão a decisão do partido.

Além de Requião e do vice-governador Orlando Pessuti, a delegação paranaense tem como delegados titulares doze votos certos a favor do desligamento do governo. São os secretários Airton Pisseti (Comunicação Social), Aldair Rizzi (Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), Aldo Parzianello (Justiça), Claudio Xavier (Saúde), Caíto Quintana (Casa Civil), Luiz Claudio Romanelli (Cohapar), Maurício Requião (Educação), Milton Buabssi (Relações com a Comunidade), Nizan Pereira (Assuntos Estratégicos), Renato Adur (Desenvolvimento Urbano), Luiz Carlos Delazari (Corregedoria Geral) e Waldyr Pugliesi (Transportes).

As dissidências estão na bancada federal, onde dos trinta deputados, apenas Max Rosenmann se declara favorável à saída. "Quem se manifestou foi só um, mas na hora do voto é claro que tudo pode mudar", disse o presidente do diretório regional, já prevendo que o partido sairá rachado da convenção. Embora o apoio incondicional ao governo seja defendido sobretudo pelo braço parlamentar peemedebista, Dobrandino acha que a direção nacional e os delegados regionais são mais fortes, na queda de braço.

"Os governistas estão grudados como carrapatos no governo. Acharam até que não sairia a convenção, mas a direção nacional não cedeu", disse. (Elizabete Castro)

Críticas à guerra fiscal

 O governador Roberto Requião, ao destacar a ação do Ministério Público no combate à corrupção, comentou que é necessária a "análise dos contextos econômicos" em que se dão os casos de desvio de dinheiro público. "Vejo o MP como parceiro e como fiscal, entretanto, ao lado desta dura luta contra a corrupção, temos que nos aprofundar nas raízes da corrupção", afirmou.

Para o governador, a política neoliberal e a predominância dos interesses de mercado nas decisões sobre o futuro de um país formam cenário ideal para surgimento de casos de corrupção. "O fundamental é que não nos perdemos na lama, mas que compreendemos a complexidade da floresta", avaliou ao destacar casos como envolvendo a Copel e Adifea.

Após a abertura do congresso, Requião jantou com os participantes da 116.º reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária. O governador aproveitou e atacou a guerra fiscal entre os estados.

"A guerra fiscal só interessa à malandragem. Os governos fazem um leilão de ofertas e se instalam empresas que vão embora no dia em que cessarem os benefícios", disse. O governador salientou que espera do encontro ações para o fim da guerra fiscal entre estados e que o Paraná "milita a favor de uma solução definitiva para o problema". "Atrás de um favor específico para uma empresa, quase sempre pode existir um processo de corrupção. Temos que acabar com esta farra de conceder incentivos especiais para empresas que não são especiais", destacou.

O objetivo do Confaz é elaborar políticas para harmonizar normas tributárias entre os estados, orientar as instituições financeiras estaduais e debater com o Conselho Monetário Nacional a dívida pública interna e externa das unidades da Federação.

Voltar ao topo