Paranaenses resistem às pressões

Dos treze parlamentares paranaenses que assinaram o requerimento para a instalação da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos Correios, até ontem à tarde, nenhum havia oficialmente retirado o apoio à investigação das suspeitas de corrupção na empresa. Os dois petistas, os deputados federais Dra. Clair e Dr. Rosinha, foram alvos de pressões, mas mantiveram as assinaturas. Um dos três tucanos que assinaram, Luiz Carlos Hauly, disse que tem esperanças de vir a ser indicado pelo partido para integrar a comissão.

Hauly afirmou que o partido terá quatro vagas – duas pela Câmara e o mesmo número pelo Senado – e que gostaria muito de participar. Para o tucano, o governo está agindo de forma "lamentável" ao se articular para indicar o relator e o presidente da Comissão. "Duvido que consigam. É inaceitável que tentem manipular desta forma", afirmou o tucano.

Para Hauly, é descabida a acusação de alguns ministros que vêem na ação da oposição em favor da instalação da CPMI uma tentativa de atingir o governo Lula. "Estamos querendo investigar corrupção. Nos momentos importantes do governo, nós apoiamos", afirmou o deputado, citando a proposta de reforma tributária como uma das iniciativas do governo que tiveram o aval dos adversários.

De fora

Para a Dra. Clair, que foi bombardeada com pedidos de lideranças do seu partido para "refletir" sobre sua iniciativa de apoiar as investigações, o governo não deveria se preocupar com as apurações. "Somos de um partido que veio para coibir a corrupção. Logo, se há denúncias, temos que investigar. A CPMI é um instrumento legal de investigação", afirmou a deputada.

A assessoria de Rosinha disse que não havia nenhum fundamento no zunzunzum de que o deputado paranaense teria recuado da decisão de apoio à CPMI. Rosinha teria sido muito pressionado, já que sua corrente, a Democracia Socialista, participa do governo. Ontem, o deputado estava na Jornada de Agroecologia em Cascavel.

Nem Clair ou Rosinha têm chances de ser indicados para integrar a CPI. "Devido às nossas posições, dificilmente seremos chamados", afirmou a deputada paranaense, que disse estar na expectativa de que pefelistas e tucanos, os mais entusiasmados com as denúncias, mantenham-se no limite do objeto da investigação. "Acho que deve haver a responsabilidade no Legislativo de cumprir o seu papel e não de fazer da CPI um palanque para a eleição do próximo ano", comentou.

O deputado Eduardo Sciarra (PFL) disse que independente dos rumos da CPI, o desgaste para o governo já é inevitável. E que embora o governo vá ter a maioria, quanto mais esforço fizer para esvaziar a CPI, pior fica a sua imagem junto à opinião pública. "Qualquer tentativa será vista como temor de que se descubra algo", comentou o pefelista, acrescentando que a CPI é um golpe na imagem ética do governo petista.

Escândalo muda rotina dos carteiros

Os carteiros paranaenses estão sendo alvo de zombarias da população desde a divulgação das denúncias sobre a existência de um esquema de corrupção nos Correios. Identificados pela sociedade como o símbolo da empresa, os carteiros têm sido alvos de piadas e insinuações maldosas desde que as denúncias vieram à tona. O secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores, Nilson Rodrigues dos Santos, disse que a entidade vai começar um trabalho de esclarecimento da população sobre a localização das denúncias. "Os carteiros são trabalhadores honestos e viraram motivo de chacota por causa de alguns engravatados que estão manchando a credibilidade da empresa", disse Rodrigues dos Santos.

O dirigente da entidade relatou que tem sido comum, durante o trabalho de entrega de correspondência, os carteiros ouvirem frases como esta: "Aí, está cheio do dinheiro agora?". Este tipo de abordagem tem gerado várias queixas ao sindicato por parte dos profissionais, que têm se sentido constrangidos com a reação da população. "E a mídia ajuda nisso. Teve um jornal que fez uma charge mostrando um carteiro sendo perseguido por um cachorro com uma coleira onde estava escrito CPI. O pobre do carteiro saía correndo e da bolsa ia caindo um monte de notas de dinheiro", relatou o secretário-geral. O transtorno é maior ainda porque o salário médio de um carteiro que trabalha oito horas por dia é de R$ 450.

Santos afirmou que em todo o país a categoria vai lançar uma campanha em defesa da instituição Correios. "A empresa sempre esteve em primeiro lugar em credibilidade e isso graças ao bom desempenho dos seus funcionários. Agora, vem uma pessoa e joga toda esta imagem na lama", comentou o secretário do sindicato. No próximo dia 9, a categoria estará organizando uma manifestação em Brasília contra a ameaça de quebra do monopólio dos serviços prestados pelo Correio. (Elizabete Castro)

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