Mulheres abrem espaço em postos de decisão

Elas não têm cargos eletivos, mas ocupam postos de grande importância no governo estadual e federal. São mulheres sem mandatos, que por competência e persistência chegaram a lugares que antes eram domínio exclusivo da ala masculina. Conscientes do papel que exercem, elas sabem que ainda falta muito para que as mulheres tenham, na prática, direitos e oportunidades iguais aos dos homens.

Comemorado no sábado passado, elas continuam recebendo homenagens pelo seu dia, festejado internacionalmente. Ontem foi realizado em Curitiba o Encontro Estadual da Mulher, que teve como convidada a secretária especial de políticas para mulheres, ministra Emília Fernandes. Também participou do evento a diretora financeira executiva da Itaipu Binacional, Gleisi Hoffmann, a primeira mulher a ocupar um cargo de diretoria na empresa.

Durante a semana os vereadores de Curitiba promoveram um dia de debates para discutir a participação feminina na política. Já a Assembléia Legislativa homenageou, com uma sessão especial, a primeira dama, Maristela Requião, a secretária do Planejamento, Eleonora Fruet, a diretora-presidente do Teatro Guaíra, Nitis Jacon, e a secretária da Cultura, Vera Mussi.

Embora digam que todo dia é dia da mulher, elas concordam que é importante ter uma data dedicada a elas. “Esta é uma oportunidade de pararmos para refletir sobre os avanços e caminhos que a mulher vai ter no novo século”, opinou Eleonora Fruet.

Reconhecimento

Para Gleisi Hoffmann, lentamente as mulheres estão sendo reconhecidas, e com isso tem aumentado sua participação em cargos de poder, como é seu caso. “É uma conquista importante, um reconhecimento da capacidade das mulheres, após muita luta. Mas para mudar o quadro atual é importante que mais mulheres assumam cargos de comando”, afirmou. “Somos 50% no mercado de trabalho, mas diminutas em cargos importantes”.

De acordo com a diretora da Itaipu, as últimas eleições, onde um grande número de políticas foram eleitas, mostram uma mudança. “Elegemos mais mulheres, não só no Paraná mas no Brasil. Acredito que a partir de agora as mudanças devem ser mais rápidas”, disse.

Em um ambiente onde os homens prevalecem, Gleisi não abre mão de lutar por seus projetos. “Meu cargo é um grande desafio, principalmente porque majoritariamente são homens que trabalham na empresa. Meu objetivo é manter a competência da Itaipu, e dar a ela uma visão social, para resgatar seu papel de desenvolvimento humano”, afirmou.

Conquista

No dia 1.º de janeiro o presidente Luíz Inácio Lula da Silva (PT) assinou a medida provisória número 103, criando a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, órgão vinculado à presidência da República. Com status de ministério, Emília Fernandes assumiu o cargo, e desde então vem trabalhando em defesa das mulheres. “Através de subsecretarias vamos discutir temas relacionados às mulheres, pois queremos fortalecer seus direitos”, contou.

Para que os projetos sejam aplicados, a ministra espera contar com o apoio de todos os governos estaduais. “Dentro da política de ampliação de trabalhos vamos estimular e qualificar a construção de conselhos estaduais e municipais”. Ontem à tarde ela participou de uma reunião com o governador Roberto Requião (PMDB), para apresentar um dos programas que está sendo implementado. “O Paraná também deve participar da campanha de documentação para as mulheres, que hoje, sem documentos, são invisíveis”. Para ela, problemas de desigualdade, violência e exploração são internacionais, mas no Brasil as negras, indígenas e trabalhadoras rurais são as que mais precisam de assistência.

De acordo com a ministra o trabalho da secretaria foi dividido em três questões sociais. “Primeiro temos que combater a violência. A cada quinze segundos uma mulher sofre um tipo de violência no Brasil. Também temos que combater a prostituição infantil e o tráfico de mulheres. E em terceiro lugar o programa Fome Zero também é de nossa responsabilidade”.

Desde que assumiu o cargo, Emília já obteve diversas conquistas. “Nesta segunda-feira vou assinar um convênio com o ministério da Educação para que no Bolsa Escola seja incluída a mãe analfabeta. Na área da saúde está funcionando desde o dia 12 o disque saúde mulher”. O telefone é o 0800-644-0803. “A mulher precisa ter acesso à informação para saber se cuidar”, defendeu.

Outro projeto, que deverá ser lançado ainda este ano, é o selo de apoio à mulher. “Vamos criar um selo que será conquistado pelas empresas públicas ou privadas que seguirem critérios de valorização e apoio à mulher”. Para que suas idéias possam ser colocadas em prática, Emília Fernandes deverá contar com a ajuda de todos os ministérios.

Encontro reuniu mais de mil pessoas

Rosângela Oliveira

O Encontro Estadual da Mulher reuniu mais de mil pessoas no auditório do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e teve como lemas a paz, soberania e justiça social. No final, foi aprovado um documento, que será encaminhado ao governador Roberto Requião (PMDB), com sugestões para definir políticas, projetos e programas voltados à promoção da cidadania das mulheres paranaenses.

O evento contou com a participação da representante da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, Emília Fernandes, que falou sobre políticas públicas para as mulheres. Também estiveram presentes as deputadas federais do Partido dos Trabalhadores, Clair Martins e Selma Schons; a deputada estadual Elza Correa (PMDB), além de prefeitas, vereadoras, representantes de entidades organizadas e lideranças comunitárias de diversas regiões do Paraná.

Para a representante da Confederação das Mulheres do Brasil, Alzira Bacellar, as mulheres estão ganhando cada vez mais destaque no País, sendo que o século XX foi marcado pelo avanço das mulheres em diversos setores. Um indicador disso é aumento da participação das mulheres na política. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dos 115,2 milhões de eleitores, 58,7 milhões são mulheres. O número de deputadas federais cresceu nas últimas eleições de 29 para 42. Foram eleitas 317 prefeitas em todo o País, sendo que o Paraná elegeu dezoito prefeitas, 34 vice-prefeitas e 410 vereadoras. O Estado também elegeu as duas primeiras representantes na Câmara Federal, e dobrou o número de mulheres na Assembléia Legislativa, que hoje tem quatro deputadas empossadas.

“Na economia do Paraná as mulheres também são destaque”, acrescenta Alzira. Hoje a classe feminina representa 41% da população economicamente ativa do Estado, e cerca de 25% das famílias são chefiadas por mulheres. No entanto, Alzira Bacellar acrescenta que algumas distorções ainda precisam ser corrigidas, pois 67% das mulheres possuem renda menor que dos homens, “mesmo que seu nível de escolaridade seja menor”.

Propostas

Entre as propostas que foram aprovadas no encontro está a garantia da participação e melhoria da condição feminina no Estado. Como indicação estão a implantação de políticas públicas para acabar com atitudes discriminatórias, bem como, definição e execução de ações para o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, o que pode acontecer através de recursos do Banco do Povo/Banco Social. A reestruturação do Conselho Estadual da Mulher foi outra medida proposta.

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