Líder da invasão do MLST à Câmara é do oeste do Paraná

Foto: Lucimar do Carmo/O Estado
Stédile: quebra-quebra vai prejudicar os movimentos sociais.

Algumas lideranças do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) que participaram do quebra-quebra na Câmara de Deputados terça feira, em Brasília, são oriundas da região oeste do Paraná, por onde o movimento iniciou as suas atividades, no ano passado. No Estado, o MLST tem dois acampamentos com cerca de 300 famílias na região: um em Cascavel e outro em Lindoeste.

O ex-presidente do Diretório Municipal do PT de Cascavel, Joaquim Borges Ribeiro, teria planejado toda a invasão ao prédio da Câmara e o acampado, de Lindoeste, Arildo Joel da Silva, é acusado de agredir com uma pedrada um funcionário da Câmara Federal.

Joaquim foi destaque dos noticiários de televisão detalhando o plano de ocupação da Câmara de Deputados. Ele e o vereador Aderbal de Mello (PT) organizaram o MLST na região de Cascavel. Além de presidente do PT local, Joaquim já foi militante do MST e coordenador do orçamento participativo durante a gestão do ex-prefeito de Cascavel, Edgar Bueno (2001-2004). Arildo é filho de um assentado em Lindoeste, distante 42 quilômetros de Cascavel.

Leopoldo Ribeiro, coordenador do MLST no Paraná, disse que Arildo partiu no domingo de Lindoeste, com outros 25 colegas, para Brasília. "Ele foi como voluntário para fazer as reivindicações. Conheço o Arildo e estou surpreso com as acusações contra ele, porque é um rapaz tranqüilo", afirmou Leopoldo.

Uma agenda apreendida com integrantes do MLST, que participaram da invasão à Câmara dos Deputados, revela que R$ 83 mil teriam sido gastos para organizar a manifestação. A Polícia Federal (PF) afirma que a agenda pertencia ao líder do movimento e integrante da executiva nacional do PT, Bruno Maranhão. A verba seria usada para transporte, hospedagem, alimentação, água e até aluguel de um carro. Segundo a polícia, a invasão foi premeditada.

O coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, engrossou ontem as críticas aos atos de vandalismo praticados por integrantes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) durante a invasão à Câmara de Deputados em Brasília. "O MLST se equivocou com o ato, porque os nossos inimigos são o latifúndio, os bancos e as empresas transacionais. Os deputados e a Câmara devem ser os nossos aliados", afirmou Stédile.

A declaração do líder nacional do MST foi dada durante a 5.ª Jornada de Agroecologia, que vai até amanhã em Cascavel. Stédile foi a principal atração do evento, que reúne cerca de cinco mil pequenos agricultores, sem terra e assentados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Para ele, o quebra-quebra promovido pelos sem terra vai prejudicar os movimentos sociais.

Stédile destacou que o quebra-quebra pode ter sido incentivado por pessoas infiltradas no movimento e interessadas apenas em criar o tumulto e desviar o foco da discussão da reforma agrária no país. Ele lembrou que o MST já enfrentou situações parecidas há dois anos, quando foram descobertos policiais infiltrados para espalhar a baderna entre os integrantes do movimento.

Família de baderneiro leva maior susto

Foto: José Cruz/Agência Brasil
Paranaenses participaram do quebra-quebra na Câmara.

A família do acampado Arildo Joel da Silva, de 21 anos, acusado de ter jogado a pedra que atingiu o coordenador de logística do Departamento de Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados, Normando Rodrigues, recusa-se a acreditar que ele tenha cometido o ato. "Jamais", disse o pai do rapaz, Aldo, em uma entrevista bastante emocionada à TV Oeste, de Cascavel. "É meu filho. Não admito uma coisa dessas de ninguém", acentuou, chorando. O rapaz também nega a agressão.

A família é moradora da Colônia Vitória, no município de Lindoeste, vizinho de Cascavel, um dos primeiros assentamentos feitos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Paraná, e de onde surgiram alguns dos líderes do Movimento dos Sem Terra (MST) nas décadas de 80 e 90.

Arildo mora com os pais e outros três irmãos em uma casa de madeira levantada no terreno de 5 alqueires. O pai é agricultor e também trabalha com transporte escolar, enquanto a mãe, Salete, dá aulas em uma escola pública no próprio assentamento. O irmão mais velho foi eleito para o Conselho Tutelar, mas acabou não assumindo em razão dos estudos.

Como o irmão, Arildo fazia Educação Física no Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná, em Palmas, no sul do Paraná. Fez vestibular em julho do ano passado, mas cursou apenas o primeiro período. Ele sofreu um acidente de moto e teve três fraturas. De acordo com a faculdade, o rapaz teria diabetes, o que dificultava a recuperação. Começou a faltar nas aulas. A direção pediu que fosse trancar a matrícula, mas Arildo simplesmente desistiu. Segundo o pai, ele também precisou abandonar o emprego que garantia os estudos, em razão do acidente.

Considerado trabalhador e tranqüilo pelos que o conhecem, Arildo voltou suas atenções na ajuda à família, mas passou a freqüentar o acampamento do Movimento pela Libertação dos Sem Terra (MLST), que se instalou há cerca de um mês nas proximidades. Segundo a família, ele acreditava ser uma oportunidade de conseguir mais terra.

O Incra calcula que existam cerca de 200 famílias pertencentes a esse movimento no Paraná, basicamente em acampamentos na região oeste. Arildo não tem passagens pela polícia. Uma vez esteve na delegacia, há cerca de um ano e meio, como testemunha da morte de duas pessoas em um acidente com cavalos.

Quando foi convidado para viajar a Brasília, ele comunicou à família. De acordo com o pai, Arildo disse que iria apenas entregar um documento e aproveitaria a oportunidade para conhecer a capital federal. A princípio a família foi reticente, alegando que faziam quase tudo juntos, sempre com o acompanhamento do pai ou da mãe. Pessoas que os conhecem confirmam o estilo protetor. "Mas se é só para entregar os documentos vá, já que vão os outros", teria lhe dito o pai. Agora, ele não se conforma: "Caiu nessa". Chorando, Aldo resumiu o sentimento da família: "Nós sofremos por ele".

 

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