Avaliação

Informe Santander: Márcio Pochmann defende o PT

Em meio à polêmica causada pelo informe do Banco Santander a seus clientes, dizendo que um eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) poderia deteriorar o cenário econômico do País, o ex-titular do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, órgão de pesquisa e publicações vinculado ao Partido dos Trabalhadores, Márcio Pochmann, saiu em defesa do governo petista e diz que a história ainda fará justiça ao governo Dilma, sobretudo na condução da política econômica. Em entrevista ele diz que, guardadas as devidas proporções, o mesmo ocorreu no início dos anos 30, com Getúlio Vargas. “Ele foi muito criticado por tomar decisões como o aumento do gasto público e a auditoria da dívida, mas depois as suas decisões foram avaliadas como corretas, a história fez jus ao ex-presidente”, exemplificou.

Para o economista, a gestão petista tem adotado medidas fora do receituário tradicional, “talvez essa seja a razão das críticas”. Mesmo assim, ele avalia que as ações da equipe da presidente estão no caminho certo. “Se compararmos o período de 2008 a 2013, que é o da crise, o mundo desenvolvido acabou com 62 milhões de postos de emprego, enquanto o Brasil criou 11 milhões de empregos, então este é um dado que precisa ser considerado nas análises do Brasil e do mundo.”

Pochmann, que é professor titular do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além de pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia da mesma instituição, alega que duas visões da economia atual estão hoje em debate: uma mais ortodoxa, que visa o choque e o enfrentamento imediato da inflação acima da meta, e a do governo, baseada no gradualismo, entendendo que se pode chegar ao centro da meta inflacionária, não em dois ou três meses, mas gradualmente, de forma a evitar efeitos colaterais, como o desemprego e a redução dos salários.

Ao falar do episódio envolvendo o Santander, Pochmann disse que esta espécie de interferência do mercado financeiro no cenário eleitoral não é novidade, lembrando o pleito de 2002, quando o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva lançou a Carta ao Povo Brasileiro na tentativa de acalmar o mercado e ampliar sua base eleitoral.

“Não acho estranho que instituições financeiras orientem seus clientes com determinadas posturas, todavia, num País que tem pouca tradição democrática e reconhecendo que essas instituições dependem fortemente de expectativas, entrar no cenário eleitoral talvez não seja o recomendável”, frisou.

E, em sintonia com seu partido e com a presidente Dilma, concorda que é preciso que essas instituições avaliem melhor esse tipo de procedimento, “justamente para o poderio econômico não ter uma influência ainda maior no processo eleitoral”. Na sua avaliação, episódios como o ocorrido com o Santander podem “enviesar” um processo eleitoral que depende de recursos para o financiamento das campanhas, independentemente de quem seja o candidato. “Por isso, não se deve ideologizar uma instituição financeira”, defendeu.

O presidente da Fundação Perseu Abramo voltou a falar das eleições de 2002, que levou o PT pela primeira vez à Presidência da República: “As avaliações do cenário econômico feitas naquela ocasião se mostraram totalmente equivocadas. O bom é que a população tem uma certa vacina sobre esses temas”.

E questionou se as pessoas votam de acordo com os ganhos e perdas do mercado financeiro. E, na mesma linha do ex-presidente Lula, destacou: “Este mercado (financeiro) tem sido privilegiado em termos de resultados nos últimos 12 anos (governos de Lula e Dilma).”

Indagado sobre as críticas da oposição, sobretudo do PSDB com relação ao que os tucanos classificam de falta de controle do governo Dilma com a inflação, o economista, que atua também como um dos colaboradores dos programas de formulação econômica do PT voltados para as classes sociais, diz que isso é resultado da visão ‘curto-prazista’ do modelo neoliberal, que reflete no caráter especulativo do mercado.

“Eu era de uma época em que as análises tinham uma vis&,atilde;o mais de longo prazo”, disse, lamentando que hoje tais análises “são de elevador, do tipo hoje (a Bolsa) subiu porque ontem não desceu e por aí vai”. E taxou de “pobreza”, do ponto de vista da interpretação, certas análises que estão sendo feitas no País.

O ex-presidente do Ipea disse ainda que, mesmo com um cenário recheado de críticas ao governo do PT, está otimista com as eleições gerais deste ano. E avalia que assim que começar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, a população terá condições de avaliar melhor o governo federal. Segundo ele, a gestão da presidente Dilma, candidata à reeleição neste pleito, irá mostrar um conjunto de ações realizadas e que ainda são desconhecidas de grande parte do público.

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