Imprensa Argentina trata votação como “primeiro passo”

Os principais jornais argentinos mantiveram em seus sites uma cobertura ao vivo da votação dos deputados brasileiros sobre o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff neste domingo, 17, com retransmissão das imagens da TV Câmara. Eles trataram com cautela o resultado, afirmando que se tratou do primeiro passo para a destituição. Explicaram os próximos passos considerando a possibilidade de reversão no Senado, sem informar a tendência de votos na Câmara Alta.

O La Nación destacou o nervosismo com que o processo foi acompanhado “no país mais influente da América Latina e um dos principais parceiros da Argentina”. Ao referir-se à sessão, considerou o comportamento dos deputados “mais próprio de um estádio de futebol que de um dos momentos mais importantes da história da Câmara”. A crise econômica brasileira foi citada, “com perda de 2,8 milhões de postos de trabalho entre 2014 e 1015”.

Em uma reportagem feita em São Paulo, o jornal considerou semelhantes os atos dos grupos que se manifestavam na Avenida Paulista e no Vale do Anhangabaú. Salientou que ambos cantavam “O povo unido jamais será vencido” e pesquisas sobre marchas anteriores indicavam um alto grau de instrução e faixa econômica similar nos dois lados. A publicação tentou explicar por que os primeiros foram apelidados de coxinhas (croquetes de frango, segundo o jornal argentino) e os defensores de Dilma, de mortadelas.

Chamou atenção da cobertura argentina ainda o fato de Eduardo Cunha ser vaiado pelos dois grupos, assim como o uso por ambos do termo “querida”, em cartazes nos quais se mudava o complemento: “tchau” ou “fica”. Ao descrever a existência de investigações sobre vice-presidente, Michel Temer, e o presidente da Câmara comparou a política brasileira a uma obra de ficção. “Por isso a companhia americana Netflix já anunciou uma série com base nesta crise”, ressaltou o jornal.

O Clarín concluiu que as justificativas dos votos majoritários indicavam uma derrota de Dilma motivada “não por corrupção, mas por sua incapacidade de governar” e porque “supostamente afundou a economia”. O jornal ressaltou a folga com que a oposição conseguiu os votos necessários e resumiu: “Dilma ficou perto da destituição”. O jornal argentino deu também destaque a um princípio de confronto no Salão Verde antes da votação no plenário. “Só não houve briga concreta porque jornalistas e cinegrafistas estavam no meio”, descreveu o Clarín.

O canal TN, do Grupo Clarín, descreveu o resultado como “esperado” horas antes do voto definitivo, o que teria motivado defensores de Dilma a abandonar seus locais de concentração nas ruas. Também destacou o uso da estratégia petista de recuperar a expressão de “Diretas Já” para pressionar pela convocação de uma nova eleição. O canal citou como possíveis candidatos Luiz Inácio Lula da Silva, Aécio Neves e Marina Silva.

Nos últimos meses, Buenos Aires teve marchas de partidários e opositores de Dilma que coincidiam com as marcadas no Brasil. Em sua maioria, elas reuniram grupos pelo impeachment no Obelisco, principal ponto turístico da capital argentina. Outro lugar de referência para atos era a embaixada brasileira, onde no sábado, 16, 30 manifestantes estiveram no início da tarde para manifestar-se a favor do governo. Em um dia de chuva e temperatura de 15ºC, não estavam marcados atos de celebração.