Hillary tentará reverter desconfiança em relação aos EUA

No encontro que terá amanhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, tentará reverter a “falta de confiança” que o Brasil tem em relação aos norte-americanos e que deixou o país em posição desfavorável na disputa pela compra dos caças que equiparão a Força Aérea Brasileira (FAB) pelos próximos 30 anos.

O governo brasileiro, no entanto, já manifestou por diversas vezes a sua preferência pela parceria estratégica com a França. E o ministro da Defesa, Nelson Jobim, em várias entrevistas, fez críticas diretas à proposta norte-americana dizendo que os “precedentes” dos EUA de transferência de tecnologia “não são bons”. Na decisão do Planalto, que está sendo aguardada para o final deste mês, o F-18 Super Hornet norte-americano está disputando com o Rafale francês e o Gripen sueco.

O gerente internacional da Boeing, Michael Coggins, assegurou que o Brasil não terá problemas com a transferência de tecnologia se optar pelo modelo norte-americano porque ela está avalizada pela Casa Branca. Coggins disse ainda que, quando o presidente Lula, seus assessores e o próprio ministro Jobim souberem os detalhes da “superioridade da proposta norte-americana” e das “vantagens” dela para o País, “vão reconhecer que temos o melhor para o Brasil e para os brasileiros” e optar do Super Hornet.

Coggins, não deixou, no entanto, de alfinetar os seus concorrentes. Citou que, em pelo menos duas ocasiões, a França vetou a entrega de aviões vendidos para Israel e o Iraque, já pagos. Isso, segundo ele, prova que “não são só os Estados Unidos que têm as suas regras” de comercialização de equipamentos militares. “Todos os países têm regras de transferência de tecnologia para países que são hostis a eles”, afirmou Coggins.

Em relação à sueca Saab, fabricante do Gripen, afirmou que ela não tem como cumprir o prazo de entrega das aeronaves em 2014, além de citar que a aeronave tem riscos de produção e viabilização, pois ainda “está no papel”. Sugeriu também que este atraso poderá ocorrer com os franceses, que “só fabricam 11 aviões por ano”. E comparou: “nós estamos produzindo e entregando quatro Super Hornet por mês”.

Depois de reiterar que Hillary Clinton “está aqui para acabar com esta falta de confiança” do Brasil em relação aos Estados Unidos, o chefe da campanha da Boeing no programa FX-2, declarou que a secretária de Estado norte-americana tentará ainda mostrar que o F-18 Super Hornet “é o melhor e o mais barato”, que os Estados Unidos querem “uma parceria mais próxima com o Brasil” seja do ponto de vista estratégico, militar, político e econômico. Os Estados Unidos acreditam que esse canal poderá ser reaberto com a venda dos caças americanos para o Brasil, já que este é um negócio entre governos, que, asseguram, a transferência de tecnologia para a Embraer já está garantida. “Tudo que pedimos é que nos dê uma oportunidade”, disse.

O diretor da Boeing citou um dos itens que considera fundamental e de grande vantagem para o Brasil, caso o governo opte pelo F-18: um maior relacionamento com a indústria brasileira, expresso na carta encaminhada ao ministro Nelson Jobim, em 15 de dezembro. A carta diz, por exemplo, que “a Boeing financiará a Embraer em aproximadamente 100 mil homens/hora para iniciar o trabalho conjunto em fase de definição de conceito do programa Global Super Hornet”.