Fruet entra na briga e assusta o governo

Foto: Agência Câmara
Fruet: paranaense deixa otimistas adversários do governo Lula.

O grupo de deputados independentes que defende uma terceira opção para disputar a presidência da Câmara decidiu ontem indicar o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) para concorrer contra o presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), candidato à reeleição, e o candidato Arlindo Chinaglia (PT-SP). A candidatura de Fruet, anunciada pelo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) após uma reunião que durou uma hora e 30 minutos, depende ainda de consulta formal à bancada do PSDB, que se reúne no dia 23 para definir qual dos três terá o apoio.

A idéia dos deputados empenhados em tornar viável a chamada ?terceira via? é constranger o partido a optar entre um tucano e um petista, pois o líder da legenda na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior (BA), declarou adesão a Chinaglia, depois de uma rápida consulta a parte da bancada. Se a sigla mantiver a definição em favor dele, o candidato do PSDB do Paraná a presidente da Câmara desistirá da empreitada e, no lugar dele, deverá ser lançada a candidatura da deputada Luíza Erundina (PSB-SP).

Se a candidatura de Fruet vingar, a eleição da Casa ficará indefinida e, provavelmente, só será decidida em segundo turno. A aposta mais otimista é que ele tem potencial para tirar votos de Rebelo e do candidato do PT de São Paulo a presidente da Câmara a ponto de se tornar um candidato competitivo. A novidade provocou reações do presidente da Câmara e de Chinaglia.

?Não se trata de apoiar um tucano ou ratificar um petista. Se trata de uma consulta feita pelo PSDB e com ela que me oriento?, declarou o candidato do PT de São Paulo a presidente da Casa. O presidente da Casa preferiu a cautela e evitou fazer comentários sobre a possibilidade de um segundo turno, resultado da candidatura de Fruet. ?É secundário se uma terceira via terá conseqüência para beneficiar ou não a minha candidatura ou a de Chinaglia?, disse, reafirmando a tese de que trabalha para ganhar no primeiro turno. O certo é que Rebelo, enfraquecido pela perda de adesões importantes, espera ter ganhado uma sobrevida com a indicação do candidato do PSDB do Paraná a presidente da Casa.

O encontro da terceira via, que contou com a presença de 15 deputados, mobilizou uma multidão de jornalistas. Foi uma reunião cheia de acordos de bastidores, alguns articulados até no banheiro de uma das salas das comissões da Câmara. Para assegurar o nome de Fruet, os tucanos travaram uma luta contra o PSOL e saíram vitoriosos.

A legenda, com três deputados eleitos e uma história de combate a tucanos, abandonou o barco da terceira via por não concordar que o PSDB indicasse o candidato. Os deputados Ivan Valente (PSOL-SP) e Chico Alencar (PSOL-RJ) avisaram, antecipadamente, que não apoiariam Fruet de maneira nenhuma. Chico Alencar apontou a deputada Luíza Erundina (PSB-SP) como um nome com mais história, identidade política e condições de defender o programa da terceira via.

Os tucanos mantiveram posição favorável ao candidato do PSDB do Paraná com o argumento que esta era a única forma de dar viabilidade eleitoral à candidatura do grupo. Em defesa da candidatura tucana, Gabeira e o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) insistiram que o nome de Fruet era fundamental para transformar a postulação da terceira via em eleitoralmente competitiva. ?Fruet é um concorrente com chances de crescer, o que torna a candidatura viável. Não será uma decisão perfeita. Pode levar a perdas e ganhos?, disse Gabeira.

Deputado pode assegurar segundo turno

Brasília (AE) – O lançamento da candidatura alternativa do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) a presidente da Câmara animou os aliados do presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e causou muita preocupação entre os partidários do candidato Arlindo Chinaglia (PT-SP). Assim que souberam da decisão de Fruet, líderes partidários, como o do PFL, Rodrigo Maia (RJ), e o do PSB, Renato Casagrande (ES), conversaram com Rebelo e traçaram um quadro otimista para a eleição do dia 1.º, segundo o qual o segundo turno está assegurado.

Quanto aos seguidores de Chinaglia, também houve intensa conversação e troca de telefonemas entre os que lideram a campanha, mas todos, como os deputados Ricardo Barros (PP-PR), João Leão (PP-BA), Odair Cunha (PT-MG) e Geraldo Magela (PT-DF), mostravam muita apreensão. A notícia, de fato, foi boa para um lado e ruim para o outro. No atual quadro, dificilmente o candidato do PT de São Paulo a presidente da Câmara alcançará os 257 votos (metade mais um dos 513 deputados) necessários para vencer a eleição no primeiro turno. Com isso, quem ganha é o presidente da Câmara porque os partidários da candidatura de Fruet (a chamada terceira via), dificilmente votarão em Chinaglia.

De acordo com as contagens feitas pelos defensores das candidaturas, o candidato do PT de São Paulo a presidente da Casa teria 237 votos, o presidente da Câmara, 225, e o candidato do PSDB do Paraná, 51. Isso se o PSDB, que tem 66 deputados, não mudar o voto anunciado em Chinaglia, pois agora está na disputa. A decisão tomada na semana passada pelo líder do partido na Casa, Jutahy Magalhães Júnior (BA), de fazer uma consulta por telefone aos deputados eleitos e anunciar o apoio a ele causou um racha na legenda.

Com a pressão feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo presidente nacional da sigla, senador Tasso Jereissati (CE), Magalhães Júnior recuou e anunciou que fará uma nova consulta, desta vez numa reunião e não por telefone. Agora, enfrentará a nova realidade, uma vez que os tucanos também disputarão a presidência da Câmara.

?Nós vamos para o segundo turno?, comemorou Casagrande. Em seguida, ele anunciou que o PSB fará um bloco com o PCdoB. Dessa forma, as duas agremiações arrancarão das mãos do deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) a quarta secretaria, que lhe havia sido prometida por Chinaglia. Regimentalmente, o cargo caberá ao bloco. ?Queremos a quarta secretaria e, unidos, vamos ter direito a duas comissões e não apenas a uma?, disse Casagrande.

Maia acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo ?balcão de negócios? em que a Casa se transformou por causa da briga pela presidência. ?Como o presidente Lula não escolheu o ministério, o deputado Arlindo Chinaglia sentiu-se no direito de transformar isso aqui em balcão de negócios?, afirmou. ?Digo que há um balcão de negócios porque nada que tem sido falado foi desmentido, ao não ser a promessa de que a presidência de Furnas seria dada ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele logo se apressou a dizer que não existe nada disso?, continuou.

O líder do PFL na Câmara afirmou que hoje na Casa se comenta, por exemplo, as nomeações de pelo menos dois deputados para o Ministério dos Transportes: Tadeu Filippelli (PMDB-DF) e Fernando Diniz (PMDB-MG) e a entrega da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) para o senador eleito Joaquim Roriz (PMDB-DF). ?Isso é falado por todo lado e ninguém desmente. Fizeram da Casa um balcão de negócios?, atacou.

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