Líbia em chamas

Forças de Kadafi enfrentam rebeldes que avançam rumo à capital

Helicópteros líbios atiraram contra uma força rebelde que avançava para Oeste a caminho da capital Trípoli pela costa mediterrânea no domingo, e forças leais a Muamar Kadafi enfrentaram os combatentes rivais em uma intensa batalha em terra.

No caminho a Trípoli desde a semana passada, as forças de oposição tomaram o controle de dois importantes portos petrolíferos em Brega e Ras Lanouf. No domingo, os rebeldes avançavam ainda mais a Oeste quando foram atingidos pelo helicóptero e pelos confrontos em terra.

As batalhas em terra aconteciam entre duas cidades, Ras Lanouf e Bin Jawad. Repórteres da Associated Press no local disseram que as forças leais a Kadafi retomaram Bin Jawad, cerca de 160 km a Leste da cidade natal de Kadafi, Sirte.

Os repórteres testemunharam ataques aéreos por helicópteros contra as forças rebeldes e intensos confrontos em terra. Um avião de guerra também atacou uma pequena base militar em Ras Lanouf e destruiu três hangares e um pequeno prédio. As forças do regime atiraram contra posições rebeldes em Ras Lanouf usando foguetes e artilharia. Ambulâncias correram para a cidade e os rebeldes levaram caminhões com lançadores de foguetes para as linhas de confronto.

Em Trípoli, moradores foram acordados antes do amanhecer pelo barulho de tiros, que duraram por pelo menos duas horas. Alguns dos tiros foram ouvidos perto do campo militar de Bab al-Aziziya, onde Kadafi mora, provocando especulações de que poderia ter havido algum tipo de confronto interno envolvendo as forças que defendem o líder líbio. A localização de Kadafi é desconhecida.

O levante que começou em 15 de fevereiro, inspirado por rebeliões nos vizinhos Tunísia e Egito, está se tornando uma guerra civil que pode se prolongar, uma vez que os rebeldes recebem o apoio de unidades do Exército e de armas roubadas de depósitos em sua luta para derrubar o regime de 41 anos de Kadafi. Ao mesmo tempo, forças pró-Kadafi tentam uma contraofensiva para retomar o porto petrolífero de Brega e atuam na cidade de Zawiya.

Os rebeldes agrupados na cidade de Benghazi formaram um conselho governamental interino que pede ataques aéreos internacionais contra as forças de Kadafi.

Outra cena de forte violência foi observada na cidade de Misrata, 200 km a leste de Trípoli, onde um médico afirmou à Associated Press que 20 pessoas foram mortas e 100 ficaram feridas. Moradores disseram que as tropas pró-Kadafi entraram na cidade com morteiros e tanques, mas foram expulsas cinco horas depois por forças rebeldes.

Os líderes rebeldes abriram intencionalmente o caminho para que tanques do governo entrassem na cidade, para depois atacá-los com armas para combate a aeronaves e morteiros, de acordo com Abdel Fatah al-Misrati, um dos combatentes rebeldes. “Nossos espíritos estão elevados”, disse. “O regime está em dificuldades e o que está acontecendo é uma tentativa desesperada de sobreviver e esmagar a oposição”, comentou.

Com a contraofensiva se intensificando, a Líbia mergulhou no caos e num pesado banho de sangue, enquanto a comunidade internacional parece encontrar dificuldades para reunir uma força militar por trás dos pedidos para que Kadafi deixe o poder O Reino Unido afirmou que uma das ideias mais discutidas para intervenção – a de se criar uma área onde o voo de aeronaves não é permitido – ainda se encontra em estágio inicial de planejamento e descartou o uso de forças por terra.

O Reino Unido informou neste domingo que “uma pequena equipe diplomática” deixou a Líbia, depois de enfrentar “dificuldades” ao tentar “contatos iniciais” com rebeldes de oposição na cidade de Benghazi. “Posso confirmar que uma pequena delegação diplomática estava em Benghazi”, declarou o secretário de relações exteriores britânico, William Hague. Os rebeldes se recusaram a conversar com os diplomatas do Reino Unido, que entraram no país sem um acordo prévio, de acordo com o conselho nacional dos rebeldes. O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, pediu que Kadafi entregue o poder e acabe imediatamente com o uso de forças armadas contra os líbios

“Pedimos ao mundo que haja, para derrubar as bases poderosas (de Kadafi) e resgatar os civis”, disse um morador de Misrata. “Ele tem todo o poder para esmagar as pessoas.” Mais de 200 mil pessoas já deixaram a Líbia, e a maioria delas era estrangeira. O êxodo está provocando uma crise humanitária na fronteira com a Tunísia.

Desde o início dos protestos contra o regime do ditador Muamar Kadafi na Líbia, a Jordânia retirou mais de um terço dos seus cidadãos que estavam na Líbia, de acordo com o embaixador em Trípoli, Munther Qaba’a. “Quase 3,5 mil jordanianos voltaram para casa até o momento. Cerca de 2,5 mil decidiram ficar na Líbia porque vivem lá há muitos anos, onde têm negócios e investimentos”. Segundo Qaba’a, “a embaixada jordaniana em Trípoli mantém contato com todos os que decidiram ficar”.

Antes da crise política começar, acredita-se que 9 mil jordanianos viviam na Líbia. Qaba’a afirmou à agência estatal Petra News que os pedidos de retorno vêm diminuindo. Amã solicitou a Trípoli que ajude a enviar os jordanianos para casa, de modo que aviões militares foram providenciados para transportá-los. O Reino Unido está repatriando 500 cidadãos de Bangladesh que fugiram da Líbia para a Tunísia, de acordo com o secretário de desenvolvimento internacional britânico, Andrew Mitchell.

Os combates deste domingo parecem ser o sinal do início de uma nova fase no conflito. O fato de o governo usar armamento pesado contra os rebeldes mostra o temor do governo de que eles ocupem a cidade de Sirte, cidade natal e fortaleza de Kadafi. Se Sirte cair nas mãos dos rebeldes, as forças anti-Kadafi ganharão grande força moral e podem ser estimuladas a romper os portões de Trípoli. A força de oposição é estimada em 500 a 1 mil combatentes.