Fantasma do mensalão ameaça arrastar o PMDB

O presidente estadual do PMDB, deputado Dobrandino da Silva, disse ontem que a denúncia de envolvimento do líder do PMDB na Câmara Federal, o deputado federal paranaense José Borba, no escândalo do mensalão, tem que ser apurada a qualquer custo. Dobrandino irá reunir os integrantes da executiva estadual amanhã (06), em Curitiba, para discutir o assunto. Ontem, o vice-líder do PMDB na Câmara, deputado Wladimir Costa (PA), disse que as denúncias surpreenderam o comando peemedebista e defendeu o afastamento do líder do seu partido do cargo até que todas as denúncias sejam esclarecidas.

Com a citação de Borba, o PMDB juntou-se ao PL e PP como mais um dos partidos suspeitos de cobrar pelo apoio dado ao governo no Congresso. A suposta participação de Borba no esquema do mensalão foi abordada pelo programa ‘Fantástico’ da Rede Globo, que apresentou uma entrevista com a secretaria Fernanda Karina Sommagio, na qual ela disse que o deputado paranaense tinha contatos com o publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de fazer pagamentos a deputados em troca de apoio político. "Se a direção nacional não tomar alguma providência, nós teremos que fazer alguma coisa por aqui", disse Dobrandino.

A executiva estadual vai discutir como fica a situação do partido, em Maringá, onde Borba ganhou carta branca para escolher os membros da comissão provisória que irá substituir a direção destituída por decisão estadual.

Dobrandino afirmou que, a ser confirmada, a denúncia contra Borba pode enfraquecer o setor peemedebista que negocia a participação no governo. "Mais do que nunca, nossa posição será fortalecida", disse o dirigente do PMDB do Paraná, um dos defensores do distanciamento do PMDB em relação ao governo federal. "Esses que estão envolvidos podem participar do governo, se quiserem. Nós devemos salvar os bons porque tudo isto está parecendo um mar de lama", disse o presidente do partido.

O vice-presidente estadual do partido, deputado estadual Nereu Moura, avaliou que, por enquanto, a denúncia tem um caráter individual, mas que o partido tem que tomar as providências para não se deixar "contaminar" pela acusação. Moura disse que Borba, por precaução, deve ser afastado da liderança do partido até o desfecho das apurações. "Temos que preservar o partido que, até agora, estava incólume. Afastar o deputado enquanto se investigam as denúncias é uma forma de preservar o partido", disse.

Entrevistado, Borba negou conhecer a agência SMPB, de Marcos Valério. E disse também que nunca falou com o publicitário. Mas a emissora mostrou um trecho do depoimento de Marcos Valério à Polícia Federal, prestado na última quarta-feira, em que ele incluiu o deputado José Borba entre os políticos com quem se relaciona.

O presidente nacional do PMDB, Michel Temer, disse ontem às agências de notícias que não coloca a mão no fogo por ninguém e que todos os acusados devem ser investigados. Temer lidera o grupo que condena a participação do PMDB no governo Lula e que defendeu a entrega dos cargos pelos ministros do partido. 

Partido quer que Borba se explique

Brasília –  O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), disse que o partido queria saber ainda ontem à noite do deputado José Borba (PR), líder do PMDB na Câmara, o que ele tinha a falar sobre seu suposto envolvimento do partido no pagamento de mesadas a deputados, o chamado "mensalão". "Ele saberá tomar as medidas cabíveis. Se fosse eu, explicaria ao partido o que está se passando", disse Suassuna. Ele acrescentou que as notícias veiculadas na imprensa envolvendo o PMDB com o "mensalão" incomodam os parlamentares: "Não sei se é verdade, mas não é confortável ver o PMDB citado".

Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, disse que Borba mantinha encontros regulares com ele. Valério é apontado como suposto operador do pagamento de mesadas a parlamentares em troca de apoio ao governo. Documentos do Banco Rural comprovariam que saques em dinheiro em valores superiores a R$ 100 mil foram feitos por Valério em datas semelhantes àquelas em que Borba teria estado em uma agência do banco em Brasília. Ainda segundo a reportagem, em depoimento à Polícia Federal, Valério confirmou que mantinha relações com Borba.

Enquanto isso, ainda ontem o presidente nacional do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), disse, em discurso da tribuna da Câmara, que põe o sigilo bancário, fiscal e telefônico à disposição para ser investigado por uma das comissões parlamentares de inquérito (CPIs), até mesmo a que apura denúncias de pagamento de "mensalão" – mesada em troca de apoio ao governo – a deputados. Costa Neto pediu também que o Congresso não entre em recesso este mês e que a Câmara e o Senado se autoconvoquem para continuar trabalhando. "A honra desta Casa não pode entrar em recesso", afirmou. "A crise instalada a partir do Parlamento não nos permite o direito ao recesso parlamentar." Ele é um dos deputados acusados pelo presidente nacional licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), de receber dinheiro. Por causa dessa acusação, Costa Neto acionou Jefferson no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, pedindo a cassação dele por infração à compostura.

Costa Neto (PL-SP) defendeu a instalação da CPI do Mensalão. "A crise atravessou uma praça e chegou a todo o governo. Não podemos entrar em recesso e pensar que o tempo vai apagar tudo", disse. O presidente do PL ressaltou que a crise política atual não é restrita aos partidos da base do governo. O deputado disse que vai apresentar um documento em que autoriza a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico.

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