Planos

Ênio Verri fala do desafio do PT no Paraná

Ex-secretário de Planejamento de Requião, Ênio Verri deixou o governo no fim do ano passado para assumir a presidência estadual do Partido dos Trabalhadores, substituindo Gleisi Hoffmann, em fevereiro.

Em entrevista a O Estado, Verri, que volta à Assembleia Legislativa neste ano, analisa as possibilidades políticas do PT e conta como construirá o palanque da ministra Dilma Rousseff (pré-candidata à presidência da República) no Paraná. _por Roger Pereira

O Estado – O senhor assume o PT com a missão de tentar viabilizar esse palanque único PT/PMDB/PDT. É uma missão impossível?

Ênio Verri – Não acredito que seja uma missão impossível. É uma missão muito difícil. O palanque é mais amplo do que PT/PMDB/PDT.

Nós temos aí também o PR, o PCdoB, o PP, temos no Paraná oito partidos que compõem a base do governo Lula. O que nós estamos tentando construir é um palanque único aqui no Paraná.

Primeiro para continuar esse projeto do governador Requião e também, em especial, porque a marca do PT é continuar o projeto do PT no Brasil, elegendo a ministra Dilma.

Essa tarefa, e nesse momento o PT está priorizando a política nacional em relação à local, é uma tarefa difícil porque tem interesses já definidos dentro desse campo. O vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) e o senador Osmar Dias (PDT) são candidatos.

O PT também tem segmentos que defendem a candidatura própria e tem nomes já colocados. A nossa tarefa, no prazo que nos foi dado até março, vamos lutar com todas as forças para possibilitar essa construção. Se não for, vamos tentar, ao menos, o maior número de forças possível, juntos, para garantir um bom número de votos para a ministra Dilma aqui no Paraná.

OE – E essa tentativa de aliança com o PDT, com o Osmar Dias, senador que se declara representante do agronegócio, enquanto o PT tem na sua base movimentos sociais como o MST. O senhor não vê uma contradição?

EV – Primeiro que agronegócio e MST não têm contradição. Nós temos o agronegócio, que é uma marca no Paraná, que tem um papel muito importante para o desenvolvimento econômico e social do Estado, mas temos também a agricultura familiar e temos também os assentados, que ocupam terras e o PT enxerga o MST como um movimento social legítimo e necessário na sociedade capitalista em que vivemos.

O que marca uma aliança não é o nome da pessoa, são os programas em comum que podemos ter. E um governador que acredita na agricultura, tanto na agricultura com sua lógica mais de mercado, como o agronegócio, mas também em vista na agricultura familiar, nos assentamentos, que é marca nossa, é perfeitamente possível e viável.

Quero deixar claro que tanto o vice-governador Pessuti como o Osmar Dias têm a mesma característica nesse sentido, são dois homens ligados ao campo. Se mais ao agronegócio, mais à agricultura familiar, mais ao MST, aí é questão de fazer um debate em cima de um programa de governo, por isso eu não acho contraditório, desde que o programa de governo seja aprovado por todos.

OE – O PT decidiu que vai esperar até março por uma decisão sobre aliança do senador Osmar Dias. Enquanto isso o PDT negocia abertamente com o PSDB para manter aquela aliança do ano passado, que elegeu o Beto Richa (PSDB). Ser o plano B do PDT não incomoda?

EV – Primeiro, o que nós colocamos como plano principal é o palanque mais forte possível para eleição da ministra Dilma. De maneira nenhuma nós colocamos como plano A o senador Osmar Dias, do PDT.

E nesse palanque nós entendemos que nós temos o mesmo nível de prioridade para Osmar Dias, Orlando Pessuti e candidatura própria. E a própria dinâmica da política é que vai dizer isso. Nós não vamos esperar depois de 3 de abril para definir isso.

O diretório estadual tomou uma decisão pública que, se no mês de março nós não conseguirmos consolidar essa alian&cced,il;a, nós lançaremos nossa candidatura própria.

Não podemos entender isso como plano B. Entendemos como oportunidade de negociação com todas as forças que compõem esse nosso anseio do palanque para a ministra Dilma e para continuar dirigindo o Paraná da maneira como está sendo dirigido.

Nós não vamos esperar 3 de abril para que o quadro se defina e depois fazer essa negociação, porque aí sim seria aceitar ser o plano B, se nós esperássemos para depois de 3 de abril (data em que Beto Richa tem de renunciar se quiser disputar o governo).

OE – Os dois pré-candidatos do PT ao Governo, a secretária Lygia Pupatto e o ex-prefeito de Londrina Nedson Micheletti, aparecem com 1% das intenções de voto nas pesquisas. Por que o PT, que há sete anos governa o País, não conseguiu deslanchar no Paraná a ponto de produzir um nome capaz de vencer a eleição estadual?

EV – Um nome para vencer uma eleição não se constrói de maneira tão prática. Nós temos grandes lideranças, como o ministro do Planejamento Paulo Bernardo, a Gleisi Hoffmann, que é um nome muito cotado para ser eleita senadora do Paraná.

Entretanto, quando se trata de consolidar o governo, as coisas são mais amplas. Indiferente do nome, o PT sempre passa dos 10%, que são votos do Partido dos Trabalhadores. Quando a campanha começar, aí sim a gente vai dizer como que funciona isso. Hoje, essas pesquisas nada mais são do que um retrato desse momento.

Em março, digamos que a gente faça a opção por lançar uma candidatura própria e tenhamos a frente o Nedson ou a Lygia, você pode ter certeza que já vão estar em 10%. E aí sim a possibilidade de até garantir a ida para o segundo turno, ela existe.

Ou então de sermos o partido que vai determinar quem vai vencer o segundo turno. É importante lembrar que o PT com os seus 10% de início, se sairmos sozinhos, seremos nós que vamos dizer qual o caminho para o segundo turno.

OE – Por que o Paraná é o segundo melhor estado do José Serra nas pesquisas?

EV – Vou retomar aquela reflexão que é o momento de hoje. Talvez a sua pergunta no mês de março ou abril seja um pouco diferente, até porque a ministra Dilma já vai estar bem adiante nisso daí. Mas, de fato, no nosso estado, o PT sempre apresenta uma certa dificuldade nas suas campanhas.

O presidente Lula vem crescendo a cada eleição, a ponto de termos ido tão bem na última eleição. Agora é a vez da ministra Dilma. A hora que ficar claro Serra e Dilma, você pode ter certeza que o crescimento da Dilma vai ser muito grande. E não esqueça que na eleição, mais importante do que o onde estamos é o onde estávamos e para onde estamos indo.

Se pegarmos as últimas pesquisas, vemos que a Dilma vem crescendo de maneira muito rápida. E com certeza vamos estar de igual para igual aqui no Paraná quando começar o processo eleitoral.

OE – Mas o senhor admitiu que há uma dificuldade aqui. Por quê?

EV – A dificuldade é histórica. Não é um problema do PT do Paraná. É que cada estado tem características culturais e políticas distintas. O PT, nos seus quase 30 anos em que existe aqui no Paraná, vinha apresentando um crescimento muito grande. Temos ocupado um espaço político.

Mas não é tão simples assim para se chegar ao governo do estado. Isso demanda muito mais tempo do que, por exemplo, no Nordeste. Porque as políticas públicas desenvolvidas pelo governo Lula no Nordeste foram mais rápidas, porque lá a pobreza era maior, as necessidades de intervenção eram maiores.

Aqui, por ter outra característica econômica, os efeitos da política econômica foram atingidos, mas com menor intensidade e, portanto, a população sentindo menos as melhoras do governo do PT.

OE – O senhor participou por três anos do governo Requião. E, nesse período, vimos várias críticas do governador ao governo Lula e alguns atritos com o PT. Isso não te constrangeu? Não pensou em deixar o governo?

EV – Não. Desta vez, neste mandato, aconteceu uma coisa muito importante. Eu não estav,a me representando. Foi uma negociação institucional e republicana com a direção do PT à época.

O governador conversou com a direção do partido e o partido indicou as pessoas que o governador precisava. Estive no governo até dia 31 de dezembro por uma negociação do governador com o partido.

Todas as vezes que houve tensão, o diretório estadual conversou, refletiu e foi colocado em pauta se deveríamos ficar ou não e sempre decidimos por ficar no governo.

Embora tenhamos algumas divergências, no geral, as políticas públicas desenvolvidas pelo governo Requião estão muito próximas do governo Lula. Em especial, falando em meu nome agora, a Secretaria do Planejamento teve total autonomia para desenvolver políticas públicas que o PT sempre defendeu para o Paraná. E nós fizemos isso muito à vontade.

OE – Como secretário de Planejamento, o senhor acompanhou as negociações para acabar com a multa que a STN cobra do Estado por conta do Banestado. Como membro do partido que governa o País, o senhor está vendo interesse político da União em solucionar esse problema?

EV – Não é uma sinalização política. É um problema burocrático na Secretaria do Tesouro Nacional. O presidente Lula concorda que precisa resolver isso, já declarou.

A ministra Dilma e o ministro Paulo Bernardo estão nos ajudando nisso. Entretanto, acabamos sempre enfrentando aqueles velhos problemas da burocracia estatal. Então, há muitos assuntos que, embora haja muito interesse em resolver, é mais lento, demora mais.

Não quero dizer que o Governo Federal está correto e que eu concorde com o que está acontecendo. Na minha opinião, é uma cobrança injusta e a STN está muito lenta nessa decisão. Mas é importante ressaltar que não tenho dúvida que esses recursos voltarão aos cofres públicos.

Porque assim que resolvermos esse embate jurídico e burocrático, vão entender que está errado e esses recursos voltam ao Paraná. Há um empenho dos representantes do PT do Paraná, assim como do presidente Lula e da ministra Dilma. Apenas o timing da máquina pública nem sempre é aquele que nós precisamos.