O amigo fiel

Ele ajudou a quebrar estigma contra Lula em 2002

A “química perfeita” entre o operário Luiz Inácio Lula da Silva e o empresário José Alencar foi essencial para quebrar o estigma contra o petista na campanha presidencial de 2002. A avaliação é do cientista político Carlos Melo, doutor pela PUC-SP e professor de sociologia e política do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Alencar morreu nesta tarde, aos 79 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

“Um vice tão popular, tão consagrado quanto o presidente, é um caso para ficar na história”, avalia Melo. Segundo ele, tanto Lula quanto Alencar se destacaram pelo uso da inteligência emocional na liderança do País. “Houve ali muita identidade, porque a experiência de vida de cada um serviu para aproximá-los. São pessoas muito simples em sua origem, que pisaram no barro, dois homens com sensibilidade política e social e inteligência emocional”, destaca o cientista político.

Foi essa aliança inusitada que deu credibilidade à candidatura de Lula em 2002, ajudando a convencer o mercado e a classe média de que um governo petista não quebraria o País. “O Alencar talvez tenha sido mais importante na campanha do que no governo. Ele ajudou a quebrar o estigma sobre o Lula e tornou sua imagem mais palatável. Isso foi importantíssimo para ganhar a eleição”, lembra Melo.

Juros

Já no governo, mesmo se indispondo com a equipe econômica ao defender a posição dos setores produtivos, principalmente na questão da política monetária de juro alto, Alencar não arriscou a governabilidade. “Ainda assim, ele não foi desleal ao Lula e não se colocou como um problema para o governo. Ele foi um companheiro exemplar”, avalia Melo.

Outro momento importante de Alencar no governo foi durante a crise do mensalão, escândalo que colocou em xeque o governo do PT. “Ele esteve com o Lula o tempo todo. Não houve nenhuma manifestação dele que fragilizasse o governo”, comenta o cientista político.

Alencar não entra para a história apenas por ser o vice que mais exerceu a Presidência da República durante o governo. Na opinião do analista, apesar de o País ter uma lista de ex-vice-presidentes respeitáveis, Alencar ganha destaque na memória dos brasileiros. “O povo não se lembra quem foi o vice do Getúlio Vargas. Até mesmo o Marco Maciel, um grande vice conhecido por sua discrição, é lembrado por poucas pessoas. O Alencar tem empatia com o povo”, disse.

A empatia de Alencar, segundo Melo, vem não só de sua origem humilde, mas da lição de vida deixada por ele. “Ele tem uma importância pedagógica para o Brasil, que é a forma altiva de enfrentar a morte, de não entregar os pontos. Quem não se sensibilizou com este homem?”.

A imagem que deve ficar para a história, diz Melo, é a de um homem que nunca se favoreceu do cargo para atender a interesses pessoais, do típico político mineiro, fã da boa conversa, e de um “excelente exemplo no meio de tantos maus exemplos”. “Não tem ninguém nem que se aproxime da figura dele. Assim como Fernando Henrique e como Lula, ele entra para o rol das lideranças únicas”.

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