Deputados irados com a denúncia de grampos

As denúncias feitas pelo tenente-coronel Valdir Copetti Neves à CPMI da Terra na última segunda-feira, de que a Secretaria de Segurança Pública estaria grampeando irregularmente desembargadores, juízes, deputados e outras autoridades, provocaram pronunciamentos exaltados e até a suspensão da sessão plenária de ontem na Assembléia Legislativa para deliberar sobre medidas de emergência propostas pelo deputado José Domingos Scarpelini (PSB).

Enquanto o líder do PFL, deputado Plauto Miró Guimarães, reúne apoio para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar as denúncias, o presidente da Casa, deputado Hermas Brandão (PSDB) foi à superintendência da Polícia Federal, acompanhado pelo primeiro-secretário Nereu Moura (PMDB) e por Scarpelini, pedir providências à respeito do assunto.

Vários deputados da oposição se revezaram na tribuna para condenar o "grampo", argumentando que se trata de um problema sério, que exige esclarecimentos. Ofereceram apoio a iniciativa de Plauto Guimarães os deputados Scarpelini, o líder da oposição, deputado Valdir Rossoni (PSDB) e o líder do PDT, Barbosa Neto. Plauto deve formalizar o pedido na semana que vem. Para que a comissão seja criada, ele precisa de 18 assinaturas de apoio.

Os deputados citaram o nome do agente da Polícia Civil Delso Rasera, hoje lotado na Assessoria Especial do Governador, como operador dos "grampos", que utilizariam o sistema conhecido como "Guardião", capaz de "grampear" 800 chamadas simultâneamente. Rossoni disse ter recebido correspondência anônima contendo CD com gravação de conversa onde Rasera admitiria a realização da escuta telefônica "por ordens superiores". Outros parlamentares teriam recebido o mesmo material.

Scarpelini pediu à Mesa a indicação de uma comissão especial, em regime de emergência, para se deslocar até a sede do Núcleo de Repressão ao Crime Econômico, na Avenida Manoel Ribas, onde estaria montada a central de escuta.

Brandão suspendeu a sessão para uma consulta às lideranças de bancada e optou por recorrer à Polícia Federal.

Delso Rasera considerou absurdas as denúncias: "Não opero qualquer sistema de escuta clandestina". Investigador da Polícia Civil aposentado e lotado na Assessoria Especial do governador, admitiu conhecer muito bem a tecnologia que operou quando estava na ativa, participando de importantes investigações que culminaram no desmantelamento de quadrilhas ligadas ao narcotráfico, crimes do colarinho branco, sonegação de impostos e outros: " Por isso associam meu nome a fatos desse tipo. Estou afastado da atividade policial e não tenho nada a ver com a espionagem denunciada pelo tenente-coronel Neves. Ele, que atuou no serviço de inteligência, é que deve explicar como e onde isso foi feito", afirmou.

Segundo Rasera, a instalação do sistema Guardião pressupõe permissão oficial para funcionar: "Ele permite a escuta de 800 a 10 mil ligações simultâneamente. Mas deve estar linkado a uma concessionária e contar com a autorização judicial para seu funcionamento, através da quebra do sigilo telefônico. Ele tem sido um instrumento fundamental no combate ao narcotráfico e aos crimes do colarinho branco. Mas não tem como instalar uma central clandestina", rebateu.

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