Análise

Cunha e Aécio são os principais interessados e beneficiados com o impeachment

De acordo com o cientista político Luiz Domingos Costa, professor da Uninter e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), há dois “atores” interessados no impeachment: o PSDB e seu presidente, senador Aécio Neves, que não aceitaram a derrota para Dilma nas eleições de 2014, e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), acusado de lavagem de dinheiro, que tenta tirar o foco das investigações sobre si.

“O PSDB nunca aceitou a derrota. Tanto que pediu uma auditoria no resultado das eleições e depois uma auditoria nas contas do governo, para tentar achar algo contra a Dilma. Em janeiro de 2015, pediu a alguns juristas para analisar a possibilidade de impeachment. Mas, na época, do ponto de vista jurídico, o jurista Miguel Reale Júnior não viu possibilidade”, explica.

Neste meio tempo, começaram as investigações contra Cunha e ele se tornou o primeiro réu da Operação Lava Jato, que o acusa de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Descobriu-se que ele mantinha contas bancárias no exterior, com dinheiro desviado recebido de propina. Com isto, concluiu-se também que, meses antes, ele mentiu na CPI da Petrobras ao dizer que desconhecia contas no exterior em seu nome. Foi então que o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados abriu um processo, para decidir se terá ou não o mandato cassado.

Arquitetando vingança

O PT se posicionou a favor da continuidade do processo de cassação do mandato de Cunha no Conselho de Ética. Tanto por “vingança” contra a presidente, quanto para afastar o foco das investigações sobre si e tentar se salvar da cassação, Cunha passou a orquestrar o impeachment de Dilma. Ganhou apoio do PSDB, que quer assumir a presidência.

Com o avanço da Lava Jato, os movimentos sociais descontentes com o governo de Dilma e a crise econômica instaurada, Cunha encontrou argumentos palpáveis para um processo de impeachment: as pedaladas fiscais dadas por Dilma. Assim, os juristas Miguel Reale Júnior e Maria Lúcia Bicudo, filha do fundador do PT, Hélio Bicudo, que antes disseram que não havia argumentos jurídicos para o afastamento da presidente, usaram os novos fatos para pedir o impeachment.

Incentivadores do impeachment são irresponsáveis

Para o cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), não há crime de responsabilidade fiscal contra Dilma. “Isso virou uma briga pessoal de Cunha. Ele é um operador financeiro, com influência sobre os deputados desde a época do Fernando Collor e do PC (Paulo César) Farias. A família dele responde a inúmeros escândalos dentro e fora do Brasil. Somado a isso, está o PSDB e o Aécio Neves tumultuando o Congresso, fazendo uma linha de oposição muito irresponsável ao ficar incentivando o impeachment. Deveriam fazer uma oposição mais responsável, aceitando a forma democrática como a presidente foi eleita e trabalhando oposição com ética. Os operadores do impeachment não estão prevendo o que pode acontecer no futuro. Querem a saída de Dilma e depois vão ver o que vai acontecer. Isso é irresponsável, é golpe”, analisa.

“Os autores do impeachment abriram uma caixa de Pandora que nem eles sabem como vão fechar depois. Oposição tem que fazer papel de oposição sem querer derrubar o governo. O Cunha tem que pilotar a Câmara sem se preocupar com a sua cassação”, concorda o cientista político Luiz Domingos Costa.