O depoimento do ex-secretário de Estado de Governo da administração Jaime Lerner, José Cid Campêlo Filho, ontem, na 8.ª Vara Criminal de Curitiba, ao invés de uma simples defesa serviu de contra-ataque. Campêlo era acusado até ontem de prevaricação, por ter assinado a resolução 27, que regulamentava o jogo do bingo no Estado, ao mesmo tempo em que, segundo o então promotor da Promotoria de Investigação Criminal (PIC), Luiz Fernando Delazari, era proprietário de duas casas do ramo. Agora, Campêlo apresentou à Justiça e à imprensa uma fita, que jura ter recebido anonimamente, mostrando uma relação próxima do atual secretário-chefe da Casa Civil, Caíto Quintana, e do presidente da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), Luiz Cláudio Romanelli, como proprietários de casas de bingo, durante a última campanha eleitoral.
Na fita, Quintana, então candidato a uma vaga na Assembléia Legislativa, acompanhado de Romanelli, faz uma reunião com ares de comício para funcionários e diretores de bingos no Bingo Ventura. Os integrantes do primeiro escalão do atual governo foram recebidos pelo vice-presidente do Sindicato das Empresas Administradoras de Bingo do Estado Paraná (Sindibingo), Luiz Eduardo Dib, que manifestou o apoio da classe à candidatura de Quintana. “Nós entendemos que é chegado o momento de apoiarmos exatamente aqueles que podem defender nossa classe, nossa categoria, porque nós em momento algum fomos procurados por qualquer pessoa, por qualquer deputado que quer efetivamente defender nossa classe, como se nossa classe fosse de leprosos”, afirmou Dib durante saudação a Quintana. O candidato a deputado estadual retribuiu defendendo o jogo de bingo, lembrando que a modalidade deve existir desde que tenha alvará, acesso da fiscalização e controle. “Eu estou aqui por ter visto acontecer muitas injustiças praticadas contra os bingos estabelecidos, contra as casas de bingo regulamentadas, aviltando a própria legislação nacional, que confere às casas de bingo a possibilidade de funcionar, e por interesses que não vale a pena aqui a gente discutir, muitos deles bastante escusos”, disse Quintana.
Metralhadora
As acusações de Campêlo não se concentram apenas em pontos isolados do governo Requião. Afirmando não ter nenhuma ligação com casas de bingo e dizendo que editou a legislação apenas avaliando o interesse público, o ex-secretário também aproveitou para atacar pessoalmente o governador Roberto Requião (PMDB). “Enviei uma denúncia-crime por prevaricação contra ele ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Requião acabou com os bingos pois eles concorriam com o jogo do bicho, do qual ele é complacente”, afirmou. Campêlo destacou que com a regulamentação dos bingos o Paraná lucrou R$ 1,5 milhão. “Foram construídas quase quinhentas creches com o dinheiro”, ressaltou.