Polícia Federal já tem perfil de ‘laranjas’ envolvidos no caso dossiê

A Polícia Federal já apurou que entre cinco e nove ‘laranjas’ de uma mesma família, residente da Baixada Fluminense, estão envolvidos no caso do Dossiê Vedoin. Sabe também que eles são pobres e não tinham meios para realizar uma operação tão ambiciosa. Precisa agora descobrir se eles "alugaram" seus CPFs ou tiveram seus nomes usados indevidamente pelos petistas, e se os donos da empresa tinham conhecimento da operação. Hoje a PF adiou a busca que faria na empresa Vicatur Câmbio e Turismo, de Nova Iguaçu, no Rio, de onde teria saído a maior parte dos US$ 248,8 mil destinados à compra do dossiê Vedoin.

O adiamento se deu por causa do vazamento do nome da empresa e por razões operacionais, segundo informou a PF.

O objetivo da operação, que agora não tem data para ser realizada, é obter a contabilidade paralela da empresa e desmantelar o "laranjal" que ela teria montado com clientes de fachada desde 2003 para fins de lavagem de dinheiro. A investigação policial descobriu que os um grupo de petistas se serviu desse esquema para limpar parte do dinheiro, provavelmente de origem ilícita, que usaria na compra do dossiê. Com o atraso no cronograma, a PF não sabe se será possível chegar aos reais responsáveis pela compra dos dólares até o segundo turno da eleição presidencial, no domingo. Hoje, policiais da Divisão de Combate a Crimes Financeiros (Defin) realizaram diligências sigilosas para localizar os clientes laranjas.

Os dólares fazem parte do montante de R$ 1,75 milhão apreendido em poder dos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, presos num hotel em São Paulo, em 15 de setembro. Autorizada a operar com câmbio de moeda estrangeira desde 1999, a Vicatur foi objeto de uma comunicação do Banco Central ao Ministério Público do Rio por suspeita de irregularidade em operações de câmbio. Muitos clientes para os quais para os quais a agência vendia moeda estrangeiras tinham CPF falso. Em alguns casos, as pessoas sequer sabiam que seus nomes tinham sido usados nas operações.

Esquema

Com base no informe do BC, o MP abriu investigação. A PF agora reuniu dados indicando que a empresa atua como um grande "laranjal". Muitas dos seus clientes eram na verdade pessoas humildes que alugam seus CPFs mediante pequena comissão, para que terceiros comprem dólares, em operações de lavagem, ou no que se costuma chamar de esquentamento de dinheiro de origem irregular. Isso ocorre quando se quer trocar reais sujos por dólares limpos.

O município de Nova Iguaçu é um tradicional reduto petista, administrado pelo prefeito Lindberg Farias (PT). A primeira suspeita, divulgada por fontes da PF, era de que o dinheiro havia sido obtido numa corretora de Duque de Caxias, também na Baixada Fluminense. É possível que a Vicatur atue com filial nessa e em outras cidades da região da Baixada. Além da Vicatur, mais duas casas de câmbio, filtradas num total de 30 empresas investigadas, estão no centro das investigações.

Peritos estão cruzando dados bancários e telefônicos para fechar o cerco sobre a origem tanto dos dólares como da soma de R$ 1,16 milhão em reais encontrada com os dois petistas. Relatório parcial da PF indica que a responsabilidade pela compra do dossiê contra os tucanos foi do petista Jorge Lorenzetti, ex-coordenador do setor de inteligência da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a chamada Abin do PT.

As investigações da PF revelaram que o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, telefonou duas vezes para Lorenzetti, no dia da prisão de Gedimar e Valdebran. O ex-ministro e deputado cassado José Dirceu também trocou telefonemas com Lorenzetti, de acordo com rastreamento telefônico feito pela Polícia Federal. A PF ainda não definiu se vai intimá-los para depor.

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