Polícia do Paraná desvenda golpe da casa própria

Operação policial simultânea em cinco cidades de três Estados terminou com a prisão de duas pessoas, apreensão de diversos documentos, computadores, disquetes e o fechamento da empresa Fórmula Um Empreendimentos Imobiliários, que tem sede em Curitiba. A polícia ainda procura sete foragidos. Os donos, gerentes e vendedores autônomos da empresa são acusados de aplicar o golpe do consórcio de carros, casas e terrenos populares em pelo menos 400 pessoas, apenas em Curitiba e região metropolitana.

De acordo com as investigações do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), os golpistas já teriam faturado pelo menos R$ 1,5 milhão, recebendo dinheiro dos clientes sem entregar o produto prometido. As operações simultâneas começaram às 6h, desta terça-feira, em Curitiba, São José dos Pinhais, Cascavel, Porto Alegre e Belo Horizonte. Cerca de quarenta policiais participaram da operação para cumprir 20 mandados judiciais (nove de prisão e onze de busca e apreensão).

Na capital paranaense, duas pessoas foram presas. Uma delas é Suelen Gislayne Simões, 21 anos, que trabalhava como secretária da empresa, mas, segundo a polícia, usaria identidade falsa para aplicar os golpes. Ela foi presa logo depois de sair da faculdade. O outro é Valderi Alves, 24, que ocupava o cargo de supervisor da empresa. Ele foi preso em seu apartamento, no bairro Vila Hauer. Durante o cumprimento do mandado de prisão, Alves se negou a abrir a porta de sua residência, obrigando a polícia a arrombá-la.

Os policiais também foram até a casa do contador da empresa, Maurício Paulino do Nascimento, mas, no local, estava apenas a família dele. Lá os policiais apreenderam a maioria dos documentos encontrados, disquetes e três computadores. Logo depois, a equipe do Nurce seguiu para a casa do gerente da Fórmula Um Empreendimentos, Márcio Luiz Fopa, também no bairro Hauer. Ele também não foi encontrado, mas os policiais apreenderam documentos que provariam a ligação desta empresa com outra, dos mesmos sócios, a Sulcar Veículos, que foi fechada no ano passado, em Porto Alegre, acusada de aplicar o golpe da casa própria.

Os dois donos da Fórmula Um Empreendimentos, acusados de serem os “mentores” do estelionato, Luiz e Albino Franschesquetto, foram procurados pelos policiais em endereços de Curitiba e Porto Alegre, mas não foram encontrados. A polícia ainda procura os funcionários da empresa Ariana Strappasson, Adiel Gradiel e Kassen Dib Neto.

Em Belo Horizonte, a equipe de policiais paranaenses do Nurce fechou a filial da empresa que era a única no Brasil ainda em funcionamento. Em Porto Alegre, eles apreenderam diversos documentos em endereços, onde pessoas ligadas ao golpe agiam. Em São José os Pinhais e Cascavel, provas também foram coletados para a investigação.

Golpe

De acordo com o delegado Sérgio Sirino, coordenador do Nurce em todo o Paraná, os vendedores da Fórmula Um costumavam procurar pessoas de baixa renda e com pouco acesso à informação. Através de programas de rádio populares, anunciavam o financiamento (uma espécie de consórcio) para a aquisição de casas e terrenos populares, mas que nunca seriam entregue pela empresa ao comprador.

Usando de nomes falsos e alternando os atendentes da empresa, eles conseguiam enganar as vítimas durante um longo período. Na ilusão de comprar a casa própria ou um terreno, as pessoas continuavam pagando as mensalidades e davam entradas que passavam dos R$ 600.

Uma vítima, que não quis ser identificada, prestou depoimento aos policiais do Nurce, na manhã desta terça-feira. Ela trabalhava como diarista e emprestou R$ 500 para dar como “entrada” no consórcio de um terreno que valia R$ 15 mil. “Gostaria que eles fossem presos e devolvessem o dinheiro. Nunca vi tanto dinheiro junto e, para pagar, vou ter que trabalhar de graça até o fim do ano”, disse chorando.

Segundo Sirino, os envolvidos no caso serão enquadrados nos crimes de estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica e crimes contra o consumidor e contra a economia popular. A polícia acredita que os vendedores autônomos da Fórmula Um já tenham feito vítimas nos três estados do Sul, em São Paulo, no Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais. “Duas pessoas já haviam sido presas em Santa Catarina. A atuação da empresa cresceu rapidamente porque os vendedores dos falsos consórcios estavam expandindo a prática para outros lugares”, disse Sirino.

Procon

No fim da semana passada, o juiz de Direito da 5ª Vara Cível de Curitiba concedeu liminar favorável à ação civil pública da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-PR) determinando a imediata suspensão das atividades da empresa LPR Habitacional Casa Própria Ltda ? Fórmula 1, ficando a empresa proibida de realizar novos contratos até o final da ação.

De acordo com a ação, “a empresa, constituída sob a modalidade de sociedade em conta de participação e, na realidade, de verdadeiro consórcio, não oferece a necessária garantia a seus ‘consorciados’ nem qualquer tipo de fiscalização”. A ação destaca que a atividade configura captação de recurso popular, sem a necessária fiscalização, colocando em risco os consumidores atingidos por propaganda enganosa. A liminar determina também a entrega do que já foi arrecadado aos “sócios” que já integralizaram suas cotas. Em caso de descumprimento, o juiz já estabeleceu multa diária de R$ 5 mil.

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