Pilotos do Legacy podem ter acionado tecla errada

Criticada por pilotos nos Estados Unidos e no Brasil, a complexidade de funcionamento do transponder do jato Legacy pode ter induzido a erro a tripulação do avião, que se chocou contra o Boeing da Gol. Comandantes ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo disseram que o piloto do Legacy, Joseph Lepore, pode ter mexido no código do transponder pensando que ativava o rádio de navegação, uma vez que o botão de ajuste da freqüência desses dois equipamentos é o mesmo. E, para o ajuste de freqüência, o piloto tem antes de acionar teclas que ficam próximas no console. Se o piloto de fato errou, o transponder pode ter entrado em modo de espera (stand-by) e deixado de fornecer ao controle em terra a identificação do Legacy durante o vôo.

O transponder do Legacy fica no mesmo console que o rádio de navegação, usado pela tripulação para fazer contato com o controle de vôo. No jato, o botão tune – semelhante ao usado para sintonizar emissoras num rádio – tem tripla função: registrar no transponder o código transmitido pelo controle de vôo, sintonizar o rádio para comunicação com a torre e determinar a freqüência do TCAS, sistema anticolisão do avião.

Os pilotos apontam ainda risco de problemas no processo de digitação de códigos no transponder, que pode entrar em modo stand-by se a operação demorar mais de cinco segundos para ser concluída. Com o desligamento do transponder, o TCAS deixa de funcionar.

Computadorizado e duplicado (pode ser usado tanto pelo piloto como pelo co-piloto), o transponder do Legacy é fabricado pela Honeywell e tem o modelo RCZ-833 Mode S. Fica embutido no console do cockpit (cabine), no mesmo espaço do rádio de navegação. De acordo com um piloto, as duas primeiras teclas são usadas para a comunicação via rádio. As duas teclas do meio são utilizadas na programação do transponder, e as duas últimas, na programação do TCAS. A tecla que possibilita a inserção do código recebido do comando de vôo é a terceira de cima para baixo. Após acioná-la, o piloto tem de girar o tune, no lado inferior direito do console, para dar a freqüência correta do transponder. Daí a complexidade de operação do equipamento, dizem os pilotos, pois o tune tem diversos usos.

Apesar dessa dificuldade, comandantes que trabalham no Brasil garantiram que Lepore está acostumado a voar amparado em instrumentos. Ou seja: o design pode explicar por que o transponder não funcionou, mas não justifica uma eventual falha do comandante.

Uma das possibilidades para que a identificação do Legacy sumisse é a de o transponder ter entrado em modo stand-by. A outra é que o aparelho tenha sido desligado. Na filial brasileira da Honeywell, ninguém pode falar sobre o assunto.

Voltar ao topo