PF prende quadrilha acusada de fazer desocupações ilegais de terra no PR

Uma força-tarefa da Polícia Federal e Secretaria de Segurança Pública do Paraná prendeu hoje, preventivamente, oito suspeitos de formação de quadrilha e tráfico internacional de armas para patrulhamento em fazendas invadidas por sem-terra, visando à desocupação forçada. Segundo a polícia, o chefe da quadrilha é o tenente-coronel Valdir Copetti Neves, há 29 anos de Polícia Militar e que chefiava o setor de logística do Estado Maior. No governo anterior ele era o responsável pelo cumprimento de ordens judiciais de reintegração de posse.

Alguns dos presos na Operação Março Branco – em oposição ao Abril Vermelho, prometido pelo MST – conseguiam se infiltrar nos acampamentos dos sem-terra e passavam informações para que as desocupações forçadas fossem planejadas. Na operação, desenvolvida em Curitiba, Ponta Grossa e Cascavel, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreendidas 16 armas de fogo, algumas importadas. Também foram encontrados recibos de pagamentos, fotografias, binóculos e equipamentos de rádio transmissão.

De acordo com a polícia, a quadrilha era financiada por fazendeiros ligados ao Sindicato Rural de Ponta Grossa, que pagariam mensalidade para garantir o patrulhamento de suas fazendas, além da reintegração imediata no caso de invasão. "A organização era mantida com subvenções e até fornecimento de veículos", afirmou o superintendente da Polícia Federal no Paraná, Jaber Saab. O secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, foi mais longe. "Ao longo das investigações vamos comprovar, mas há casos de assassinatos, de homicídios."

O Sindicato Rural de Ponta Grossa não se pronunciou. A informação da secretaria era de que os diretores ficaram sabendo do caso pelo rádio e televisão. Eles pretendem saber os nomes das pessoas acusadas de financiar a atividade antes de qualquer manifestação. O advogado do tenente-coronel, Cláudio Daledone Júnior, reclamou pela manhã de não ter conseguido conversar reservadamente com seu cliente. À tarde, a caixa postal de seu telefone celular estava cheia.

No ano passado, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) acusou o tenente-coronel Valdir Neves de estar grilando uma área de 35 alqueires em Ponta Grossa, ao lado de uma fazenda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que está ocupada pelo movimento. O MST alega que as terras são da Embrapa, enquanto Neves conseguiu na Justiça reintegração, alegando que tinha posse dois anos antes da invasão. As desavenças entre o MST e Neves são antigas. Ele é acusado pelo movimento de comandar desocupações violentas no Estado, além de implantar escuta telefônica ilegal em cooperativas.

O presidente da Comissão Estadual de Política Fundiária da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Tarcísio Barbosa de Souza, disse ter sido surpreendido com as informações sobre a prisão do tenente-coronel e de possível envolvimento do sindicato de Ponta Grossa. "Eu não acredito nisso", afirmou.

"Vamos averiguar, pois se trata de um sindicato ligado à Faep." Sobre o tenente-coronel, Souza disse ter conhecimento de que tem uma área invadida pelo MST e elogiou as reintegrações de posse comandadas por ele. "Foram muito bem feitas", acentuou.

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