Paulo Coelho e Hélio Jaguaribe disputam votos de imortais da ABL

A eleição para a vaga de número 21, da Academia Brasileira de Letras (ABL), na quinta-feira(26), vai contrapor a literatura consagrada pelo público de Paulo Coelho à obra, festejada pela intelectualidade, do sociólogo Hélio Jaguaribe. Embora existam 12 candidatos, os dois polarizam a disputa, cujo resultado ainda parece incerto: os 38 imortais estão igualmente divididos sobre quem ocupará a vaga que foi do economista Roberto Campos. A campanha não terminou e, como disse o ex-presidente Juscelino Kubitschek, ao perder a imortalidade por um voto nos anos 1970, ?é mais fácil concorrer à presidência lá fora do que a uma vaga aqui dentro?.

Quem conta a história é o acadêmico Marcos Madeira, que não declara o voto, mas indica o dilema dos imortais. ?Vamos escolher entre o mais votado no mundo e o mais votado na Academia. Os dois merecem nosso voto. O Jaguaribe tem uma obra consistente como sociólogo, enquanto o Paulo Coelho tem uma consagração transatlântica?, comenta Madeira. ?Se a Academia preterir Coelho, vai causar perplexidade no mundo inteiro, inclusive na França, onde ele é conceituado por acadêmicos de lá. Não podemos dar as costas a esse fato, mesmo que nosso gosto pessoal não concorde com o estilo dele.?

De volta ao Rio para a campanha pela imortalidade, depois de correr o mundo na esteira dos 41 milhões de livros que já vendeu, Paulo Coelho não acredita que a escolha seja entre a popularidade e o prestígio. ?A disputa na Academia se caracteriza pelo amplo leque de escolhas e estou competindo com um candidato da maior qualidade, com uma ampla folha de serviços ao Brasil?, diz ele. Coelho cumpriu o ritual de visitar os acadêmicos e cita o apóstolo São Paulo, fundador da Igreja Católica, para falar de seu estado de espírito.?Combati o bom combate. Mas o melhor foi ter conhecido pessoalmente pessoas que admirava de longe, como Evandro Lins e Silva, João Ubaldo Ribeiro (que não declararam o voto), Josué Montello e Oscar Dias Correa.?

Jaguaribe acredita ter os 20 votos necessário à vitória, mas reconhece que Coelho tem mais visibilidade. ?Afinal, até em países como o Irã, onde estive recentemente, é o único autor brasileiro na vitrine das livrarias?, conta. Ele contabiliza entre seus eleitores Celso Furtado, Cândido Mendes, Alberto Venâncio Filho e Afonso Arinos. ?Minha obra comporta números muito mais modestos, porque as ciências sociais têm público restrito. Mas não sei se os livros de Paulo Coelho são, para os acadêmicos, o paradigma da literatura brasileira. Só evito imprimir à eleição o caráter de comício ou conspiração contra ou a favor de alguma coisa.?

Fundada pelo abolicionista e republicano José do Patrocínio, a cadeira 21 não tem proporcionado eleições tranqüilas. Em 1991, quando o dramaturgo Dias Gomes substituiu o escritor Adonias Filho, quase houve unanimidade, mas a eleição de Roberto Campos, em 1999, lembrou a batalha do Petit Trianon, descrita por Jorge Amado em ?Farda, Fardão, Camisola de Dormir?. Campos, que se orgulhava de ser um pensador da direita  substituiu o autor de ?O Pagador de Promessas?, que se colocava como legítimo representante da esquerda. Prevaleceu a pluralidade e, já na posse do economista, as desavenças pareciam sepultadas.

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